Os Equinócios e Solstícios, sempre estudados em Maçonaria, assinalam as posições do movimento do sol e a incidência
de seus raios na superfície da terra. Marcam assim o início de cada uma das
estações do ano; tudo diretamente ligado a inclinação do eixo terrestre, somados
ao movimento de translação.
Como resultado, têm-se a
existência das estações do ano e uma diferença na duração dos dias e das
noites, ao longo do ano. Ou seja, maior período de escuridão, ou maior período
de luz. Verifica-se, que o Sol, em determinadas épocas estará mais “ao sul”, ou
mais “ao norte”.
O objetivo não é em momento algum contrapor trabalhos já existentes e
publicados sobre o tema, mas sim tentar enchergar as causas naturais como
alguns povos antigos enchergavam, e sem ao certo saberem o que ocorria na
natureza criavam suas alegorias, justificando as enterperes e também as
benesses, ao bel prazer das divindades. Veremos que os símbolos utilizados em
maçonaria guardam relação estreita com os mitos greco-romanos, e com outros
povos da antiguidade e assim compreendendo algumas práticas maçônicas e
profanas.
Solstício é o limite máximo alcançado por ele, seja mais ao Norte ou ao
Sul. A impressão é de que a posição do sol estabilizou-se.
Quando o Sol atinge o limite máximo, ao sul, inicia-se a estação do
verão. Esse dia é o dia mais longo do ano. Ao atingir o limite máximo ao norte
no horizonte, o Sol inaugura a estação de inverno. Nesse dia, será a noite mais
longa do ano. Quando no hemisfério sul ocorrer o solstício de verão, ao mesmo
tempo, no hemisfério norte ocorrerá o solstício de inverno, e vice-versa.
Agora, quando os dois hemisférios posicionam-se igualmente em relação ao sol
, surgem os equinócios; tanto o hemisfério sul quanto o hemisfério norte
recebem a mesma quantidade de luz, fazendo com que o dia e a noite tenham a
mesma duração. Temos então, primavera e outono. Logo, em cada hemisfério, em
dois dias do ano, ocorrerão os equinócios[1].
Mas como explicar isso sem a tecnologia, estudos aprofundados e em uma
época marcada por dogmas, crenças e mistérios.
Mito da origem das estações
- Deméter e Perséfone
Deméter era a deusa do trigo e, de um modo geral, de toda a terra cultivada.
Senhora dos cereais, não admira que os Romanos lhe tenham chamado Ceres.
De seu relacionamento com Zeus, teve uma filha de nome Perséfone
(Prosérpina, como a chamavam os Romanos). A jovem deusa, muito bela e feliz, cresceu
vivendo em companhia das ninfas e de suas irmãs, Ártemis e Atena.
Hades, o deus do mundo inferior, irmão de Zeus e, portanto, tio de
Perséfone, apaixonou-se perdidamente por ela. Certa vez, enquantoa jovem deusa
passeava, ao colher uma flor, a terra abriu-se de repente e Hades surgiu, raptando-a,
levando-a ao mundo inferior. Ouvindo os gritos da filha, Deméter correu para a
ajudar, mas nada pôde fazer. Nem sequer sabia onde ela estava tampouco quem a
tinha levado.
Desesperada, percorre o mundo, de Norte ao Sul, de Leste a Oeste, da
Superfície ao Céu em busca da filha; sem comer nem beber, sem se preocupar com
o seu aspeto nem tratar de si, sem cuidar de nenhuma das suas tarefas. Acabou
por conseguir ajuda de Hélios o Sol, que tudo vê, e este revelou quem fora o
raptor da filha. Decidiu então não mais voltar ao Olimpo, a morada dos deuses, renunciando
às suas atribuições divinas até que a filha lhe fosse devolvida.
A terra ficou estéril e os homens com fome, pois as culturas secaram e
morreram. O mundo era devastação e abandono. Então Zeus, responsável pela ordem
no mundo, preocupado com a calamidade causada pela mágoa de Deméter, ordenou a
Hades que devolvesse Perséfone. A jovem, porém, por fome ou instigada por
Hades, comera já um bago de romã no mundo das sombras, tendo o pequeno gesto,
como um cunho inextinguível em seu corpo, ligando-a para sempre ao reino do marido.
- A Romã
Façamos aqui um parêntese, mais uma simbologia maçônica “A Romã”.
A romã é considerada uma infrutescência, símbolo da fecundidade e
da fertilidade uma vez que possui uma grande quantidade de sementes.
Originária da Pérsia ou do Irã, considerada uma relíquia sagrada da natureza, a
romã é utilizada desde a antiguidade e simboliza o amor, a vida,
a união, a paixão, o sagrado, o nascimento, a morte e
a imortalidade. É ainda o emblema solar, que representa segundo sua cor e
forma, a fertilidade (útero materno) e o sangue vital. Em maçonaria, representa
a união dos maçons, as sementes do fruto significam a solidariedade, a
humildade e a prosperidade. Ou seja, as sementes representam a união fraternal
dos filhos de uma mesma mãe, a Romã como um todo personifica a própria
Maçonaria.
Voltando a Perséfone, Hades e Demeter; Zeus interveio e então chega a uma
solução de compromisso e a um acordo: Perséfone passaria metade do ano com a
mãe, no Olimpo, e a outra metade no mundo Inferior.
Assim, quando Deméter, está feliz com a filha a natureza floresce: é o
tempo da primavera e do verão. Mas quando Perséfone tem de regressar para junto
de Hades, Deméter mergulha de novo na maior tristeza: começa então o outono, seguido
do inverno. E é essa a causa do ciclo das quatro estações[2].
Os mitos fonte fecunda do imaginário humano, que ajuda no entendimento as
relações humanas guardando a chave para o entendimento do mundo e de sua análise
a partir de nossa mente. A clássica mitologia grega, com suas lendas, deuses,
semideuses, heróis e suas batalhas tendem a revelar a mente humana e seus caminhos
cheios de curva e de características peculiares. Os mitos estão presentes em
nossas vidas, não importa em que tempo ou local, por isso característica
atemporal.
No mito de Demeter e Perséfone entendemos a explicação dos antigos para
as mudanças climáticas promovidas pelas estações do ano. Pudemos verificar que
abundancia é sinônimo de felicidade, e que o rigoroso inverno entristece,
esteriliza a terra. Daí o ensinamento de sermos precavidos, isso em todos os
aspectos de nossas vidas, analisar os fatos, estarmos como Hélios sempre atento
a tudo, para sabermos como lidar com tempos difíceis, e caso de infortúnios,
aprendemos também a importância de negociar, assim como fez Zeus com Hades
garantindo a harmonia, em que pese da disputa entre Demeter e o deus do Mundo
Inferior não ter havido um vitorioso em absoluto.
Cornucópia – O Chifre da Abundância
- A Joia do Mestre de Banquetes
Ao estudarmos Equinócios e Solstícios, nos deparamos com outras tantas
práticas. As festas pagãs receberam este nome devido a prática utilizada pelos
pagãos, do Latim paganus, significando Camponês ou Rustico.
Resumidamente, os pagãos embora religiosos, por vezes não possuíam
condições de estarem na cidade, deslocando-se à igreja ou a sede do poder, para
assim agradecer pela colheita, bem como pagarem suas indulgências, ou dízimos.
Surge então a ideia de realizarem as festas de agradecimento, bem como fazerem
suas ofertas no próprio local onde residiam.
Surgem então as festas pagãs. Uma das mais conhecidas era o festival da
segunda colheita marcada pela abundância e fartura dos alimentos, onde o
quinhão ofertado era armazenado e posteriormente consumido nos difíceis e
rigorosos dias de Inverno.
Falamos, portanto, de uma Festa relacionada ao fim do Equinócio de Outono
e início do Solstício de Inverno, para nós no hemisfério sul marcado com data
próxima ao final do mês de junho, coincidindo com o dia São João Batista. No
hemisfério Norte com o dia de São João Evangelista.
Verificamos então que o calendário cristão estabeleceu datas para seus
santos próximas das comemorações pagãs. Uma questão estratégica que se
perpetrou no tempo.
O Sabá de Mabon, o Equinócio de Outono no hemisfério norte, é um Festival
da Colheita. Tem como símbolo, a Cornucópia – o Chifre ou o Corno da
Abundância. Mais uma vez deparamo-nos com a Mitologia Grega. Disse o Oráculo
que Cronos seria destronado por um de seus filhos; Cronos então, passa a
devorar seus filhos logo após o nascimento.
Réia, sua esposa, salva uma das crianças - a quem deu o nome de Zeus
entregando-o a Ninfa Amaltéia princesa de Creta e demais ninfas do Monte Ida.
Amaltéia faz com que a criança se amamente pela Cabra Aix criação do próprio deus
Hélios, o Sol.
Dizia ainda a profecia que Zeus somente venceria Cronos após a morte de
Aix. Então Zeus, após a morte da Cabra, em agradecimento, retirou um de seus
chifres e presentou Amaltéia. Esse chifre seria uma fonte inesgotável de suprimentos
e tudo mais o que ela desejasse. Zeus ainda elevou a Cabra Aix aos Céus e a
transformou na Constelação de Capricórnio, eternizando-a.
Zeus sabendo do temor de Cronos e demais Titãs, pela cabra, retirou sua pele e a entregou a
Hefesto o ferreiro dos deuses, e este, fabricou uma armadura a qual foi
revestida com o couro do caprino e ficou conhecido como a Égide de Zeus,
permitindo a este enfrentar e derrotar os Titãs.
O Sol no Solstício de Verão atinge seu Zênite, ao observarmos a
trajetória do astro rei pela esfera celeste, verificamos sua passagem pela
Constelação de Capricórnio no período compreendido entre 22 de Dezembro a 20 de
Janeiro. O Hélios chega ao ápice de Poder, de luz e calor e declinando quando
ainda está passando por Capricórnio – o Signo da Cabra.
O mito de Amaltéia e da cabra Aix simboliza a generosidade e o sacrifício
em prol de um bem comum. O Chifre é um Símbolo fálico, de Fertilidade e que
representa o Deus Cornífero. Na Antiguidade era muito comum o uso de um vaso
chamado Rhyton – um vaso utilizado para beberagens e libações, semelhante à
Cornucópia e aos seus atributos de abundância e Fertilidade[3].
Conclui-se então que a Cornucópia, símbolo do Mestre de Banquetes, é
muito mais do que um símbolo de abundância e fartura, é também o símbolo do
amor fraternal de bem servir, de doação e dedicação aos que comungam do árduo
trabalho de construtores sociais, que ao final do dia de labor necessitam repor
suas energias com um ágape fraternal.
CONCLUSÃO
Os símbolos utilizados em maçonaria guardam relação estreita com os mitos
greco-romanos, e com outros povos da antiguidade. Na peça em questão utilizamos
para explicar que Solstícios e Equinócios eram comemorados na antiguidade em
agradecimento aos deuses, ou a natureza, pelo alimento conquistado naquele
período. Comemoravam ainda, principalmente o findar de mais um ciclo de
trabalho, com o findar do Equinócio de Outono e início do Solstício de Inverno;
prática esta que chegou às graças dos iniciados, em especial os maçons, os
quais em seus banquetes ritualísticos comemoram o findar de cada semestre
maçônico.
Ficou ainda notório a interligação dos assuntos, pois verificou-se também
a importância de outra figura, as vezes relegada ao ostracismo das práticas em
loja, falamos da figura do Mestre de Banquetes, o promotor da concórdia e do
sustento dos trabalhadores da pedra e das construções.
Assim, arremata-se mais uma reflexão onde provou-se a sabedoria dos
ensinamentos maçônicos, que nos ensinou que amor e ódio caminham juntos, que
devemos combater nossas paixões, para não sermos vencidos por elas, como
ocorreu com Cronos; submetermos nossas vontades, assim como foi feito com Hades
e Demeter, que passaram a dividir a atenção de Perséfone; fazendo assim novos
progressos e estreitando os laços de amizade e reconhecimento, assim como
ocorreu com Zeus, que por gratidão após ser criado e alimentado por Amaltéia e
a cabra Aix, se mostrou agradecido e as eternizou. Fazendo com que as mesmas
ganhassem um lugar entre eles, os deuses olímpicos.
Quanto a nós, assim como Demeter, devemos nos esforçarmos, apesar de as
vezes parecer impossível, para mantermos a unidade, devemos sermos a romã
maçônica, devemos permitir que o mestre de banquetes nos forneça a cada dia uma
nova porção de romã, promovendo a união indissolúvel, pois já dizia o velho
ditado família que ceia unida permanece unida, tal é esta verdade que Hades
usou da alimentação para se unir a Perséfone, Pitágoras, Zoroastro e Jesus,
sentavam-se a mesa com seus discípulos. E as Lojas de Mesa, também chamadas
“Jantar Ritualístico” é uma prática entre os maçons.
Com certeza esta não é a verdade absoluta, mas sem dúvida é o ponto de
partida para explicar simbologias simples que os homens tendem a complicar com
teorias das mais variadas.
BIBLIOGRAFIA
Aprediz Maçom, Ritual do Simbolismo/GLESP. 10ª Ed. São Paulo, 2014.
ASLAN, Nicola. Comentários ao Ritual de Aprendiz: Vade-Mecum Iniciático.
Ed. A Trolha. Londrina/PR, 1995.
ASLAN, Nicola. Grande Dicionário de Maçonaria e Simbologia. Ed. A Trolha.
Londrina/PR. Londrina/PR, 1996.
BELTRÃO, Carlos Alberto Baleeiro. As Abreviaturas na Maçonaria. Madras
Editora. São Paulo/SP, 1999.
CARVALHO, Assis. Cargos em Loja. 7. ed. Ed. A Trolha, Londrina/PR 1998.
FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de. Dicionário de Maçonaria: Seus Mistérios,
Seus Ritos, sua Filosofia, sua História. Ed. Pensamento. São Paulo/SP, 2000.
FRANCHINI, A.S. et SEGANFREDO,
Carmen. AS 100 MELHORES HISTÓRIAS DA MITOLOGIA – Deuses, heróis, monstros e
guerras da tradição greco-romana. L & PM Editores. Porto Alegre/RS, 2011
GUIMARÃES, João Nery. A Maçonaria e a Liturgia: Uma Poliantéia Maçônica.
Ed. A Trolha. Londrina/PR, 1998.
Ed. A Trolha. Londrina/PR, 1998.
PACHECO Jr., Walter. Entre o Esquadro e o Compasso. 2 ed. Editora A
Trolha. Londrina/PR 1997.
STEPHANIDES, Menelaos. OS DEUSES DO OLIMPO. editora Odysseus. São Paulo/SP,
2010.
RODRIGUES, Régis. – GEOGRAFIA sitio eletrônico Brasil Escola.
Centro de Estudos Clássicos – Faculdade de Letras da Universidade de
Lisboa http://www.olimpvs.net/index.php/mitologia/a-origem-das-estacoes/ - Acesso em: 141200DEZ17.
Revista BTW – Wicca Tradicional Britânica - Coven Caldeirão de Cerridwen
- RJ - Tradição Gardneriana.
Ir∴ EUCLIDES CACHOLI DE LIMA
M∴M∴