ALTAR
PARTICULAR
“Vocês não sabem
que são santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vocês?”
1 Coríntios 3:16
INTRODUÇÃO
Iniciaremos o presente
estudo buscando a reflexão acerca de nossas condutas em relação a nós mesmos,
buscando responder ao final, se é que será possível, o quão estamos realmente
conectados com o Sagrado, desta forma, podendo avaliar quais mudanças ou
aperfeiçoamentos são necessários para melhorarmos como pessoas. Como texto base
da presente reflexão crítica sobre o “ser” será utilizado o texto “O ALTAR”, o
qual encontra-se disponível no Breviário Maçônico de autoria do Ir⸫ Rizzardo da
Camino.
Obviamente outras fontes
de consulta serão utilizadas, tais como, artigos, livros e até mesmo reflexões
decorrentes de conversas com pessoas dos mais variados círculos e níveis
culturais, que serviram de experiência (relativo a formação do pensamento
crítico do autor) para o amadurecimento da conclusão.
Desta feita, vamos aos
estudos. Boa leitura.
BREVIÁRIO
MAÇÔNICO
21 de janeiro
O ALTAR
O
Altar é um móvel colocado em local elevado, sendo suporte de algo sagrado,
permitindo a presença do ser humano aos seus pés.
Na
maçonaria temos dois altares: o sagrado e o dos perfumes.
No
Altar sagrado são colocados o Livro Sagrado, o Compasso e o Esquadro.
Essas
joias são consideradas sagradas porque representam o trabalho orientado pela
Lei Divina.
Impropriamente,
diz-se que o Venerável Mestre e os Vigilantes ocupam altares respectivos; o que
vem a ser ocupado são tronos.
O
maçom tem consciência que possui dentro de si um templo que construiu com seu
próprio esforço e auxílio de seus Irmãos.
Nesse
Templo existe um Altar, a cujos pés o maçom prostra-se reverentemente.
Nos
momentos de entrega mental, o maçom deve prostrar-se diante desse Altar,
íntimo, todo seu, e elevar aos páramos celestiais o seu pensamento de gratidão,
pela vida que lhe é o bem maior.
Trata-se
de uma liturgia intimista, que é praticada a sós, em um contato com o Criador a
quem se suplica o recebimento das benesses a que se faz jus.
Diante a tal texto vem a
questão, como atingir esse altar, o que nos leva a crer que realmente exista um
altar espiritual, e porque chamarmos essa coisa invisível e impalpável de
altar?
Filosoficamente podemos
afirmar que a fé está ligada à cegueira do ser racional, Pitágoras, Heráclito e Xenofánes
desacreditavam da religião, marcando a nítida ruptura entre razão e fé. A
Filosofia pontua o embate entre a razão e a fé ao tentar explicar de maneira
racional tais fenômenos, recusando desta forma a fé cega.
Com o surgimento do Renascimento[2],
pensadores como Galileu, Bruno e Descartes, reinventaram o pensamento contra a
fé cega das crenças religiosas, valorizando sempre a razão humana.
Posteriormente o movimento Iluminista, envolvia um sentimento que dá forma ao
discurso onde deve a humanidade, por seu pensamento, estar superior as crenças
e superstições, pautando-se na razão. Para a religião, a Filosofia é a ciência
da incredulidade; já a Filosofia vê a religião como preconceituosa e
desatualizada.
Desta feita, a inquirição filosófica fez com que o Cristianismo se transformasse em Teologia, ciência na qual a
temática é Deus, assim, os textos da história contida em escrituras ditas
sagradas recebem um novo status o de teoria.
A crença cristã queria fundamentar o seu domínio ideológico, debatendo sobre
alguns temas. Porém ainda há certas crenças que não poderiam ser
compreendidas por meio da razão e, sem provas lógicas. Para tais enigmas
impossíveis de descodificar, os chamados dogmas, a religião tentará fazer por
meio do que se chama Fé.
Certa vez conversando com um Professor, ele me disse sobre a fé, que a
mesma é:
- “Acreditar na realização de um
sonho com fé é muito mais que simplesmente acreditar... e ter a certeza das
coisas que ainda não aconteceram e imaginá-las como concretas e já alcançadas.
Isso é ter fé”[3].
Em seguida o Professor questionando o que é FÉ inabalável, continua:
- “A Bíblia Sagrada responde em
Hebreus Cap. 11. 1 ‘Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam
e a prova das coisas que se não veem’.”. Ele ainda afirma, que a “gratidão deve ser em todas as coisas... inclusive naquelas que ainda não
aconteceram, pois com essa fé nós acreditamos em coisas que ainda não
aconteceram. Tenha atitude e que essa seja com alegria, pois estamos certos da
Vitória!”.
Dei-me então o direito a réplica, de forma a coadunar com sua explanação,
e assim, despido de razão cega ou fé insana respondi:
- Sem a fé somos espíritos vagos, ou corpos sem
almas, pois nos falta a esperança.
- Sem a esperança somos vulneráveis à vontade
de forças externas, as quais talvez não estejam dispostas ao auxílio, ou a
orientação; mas sim ao domínio e controle nefasto das almas timoratas, reclusas
ao que acreditam ser um porto seguro, por isso não arriscam a navegarem em
águas profundas.
- A Fé nos guia, a Esperança nos encoraja, e
claro, a Gratidão nos retribui, enchendo-nos de vitórias e assim nos dando a
Coragem para navegar, para ampliar nossa zona de conforto, consequentemente
voltando sempre no principal, que é a Fé, pois esta, sempre aumentará.
Desta maneira, naquele momento pude ver que realmente tanto a razão
filosófica quanto a fé se completam, precisamos sim agirmos com a razão, porém,
enquanto seres dotados de uma força superior inexplicável precisamos de um
alimento e este se chama fé.
Mas como nos alimentarmos da fé, ou daquilo que dela se deriva? A
resposta para esta questão está justamente ligada ao tema, pois o suprimento da
alma é servido no Altar.
Abordaremos a seguir a história de um personagem fantástico, o qual nos
fará compreender melhor nosso estudo.
Ao ler os últimos
capítulos do livro bíblico de Ezequiel, será quase impossível não nos
admirarmos com a forma pela qual o profeta nos descreve do templo dedicado ao
Deus de Israel. Facilmente a imaginação nos revela a grandiosidade daquela obra
e sua beleza incomum, um templo majestoso, estonteante, ludibriante.
Grandiosidade e beleza
descomunal que talvez fosse inexplicável dentro da visão racionalista, porém
falamos de Fé, e em especial da fé contida no coração de um escolhido de Deus,
logo, cumpre evidenciarmos em breve relato a vida de Ezequiel. Sabemos, pois,
que nem todos comungam de uma religião monoteísta com raiz abraâmica, ou mesmo
nem todos são religiosos, portanto, natural que leitores não tenham tido
contato com as escrituras, as quais tragam em seus bojos relatos sobre este
profeta.
“A
FORÇA DE DEUS FORTALECE” – OU SIMPLESMENTE EZEQUIEL
Ezequiel, era um
sacerdote que foi chamado para profetizar durante
o Exílio do povo judeu na Babilônia, tendo exercido
sua atividade entre os anos 593 a 571 AC. Atribui-se a ele a criação da escola
de profetas, onde ensinava a Lei à beira do Rio Quebar na cidade
de Babilônia.
Em suas visões acerca da
glória do Criador do Universo e os sinais que aconteceram em sua própria vida, procura
demonstrar que as ações de Deus são fortes e marcantes. Ezequiel perdeu a sua
esposa como sinal da queda de Jerusalém[4].
A sociedade, contemporânea
a Ezequiel, acreditava ser um breve período de turbulências, tudo voltaria a
ser como antes, sendo os chamados desígnios Divinos mero sistema que lhe dava
segurança, eram regras que poderiam serem descumpridas, pois as leis divinas não
estão materializadas entre os homens. O profeta por sua vez, sabia que a
sociedade por sua corrupção moral e ética agonizava de maneira irrecuperável,
pois Jerusalém seria destruída.
Destruirei o meu belo e admirável
santuário, a força da vossa nação. Os vossos filhos e filhas na Judeia serão
mortos à espada.[5]
Afirma Ezequiel que a
sociedade sofria de uma moléstia crônica, quiçá incurável, afinal abandonaram o
projeto de Deus em troca de uma vida luxuosa e fascinante, a ambição
desregrada passava a ser um hábito. Então, Ezequiel vê o próprio Deus deixando
o Templo e largando os rebeldes ao bel-prazer dos amantes.
Com uma linguagem
simbólica, indicava os passos para a construção de uma nova sociedade. Assim deveriam
assumir a responsabilidade pelo fracasso de um sistema corrompido; uma reforma
não gera nenhuma sociedade nova, apenas reanima o velho sistema, com o tempo
voltando os mesmos vícios; o povo Judeu deveria ser realmente temerário ao
Criador, assumindo o seu projeto; e, a partir daí, construir uma sociedade
justa e fraterna, voltada para a liberdade e a vida.
Verificamos, que a
doutrina mostrada pelo profeta tem, por núcleo, a renovação interior; o templo
deixado por Deus não era o templo físico. Ezequiel mostrou que a mudança deve
ser por completo, não se deve reformar, mas sim quebrar e reconstruir: é
preciso que cada um criar, para si, um coração novo e um espírito novo; ou
ainda, o próprio Deus dará "outro" coração, um coração
"novo", infundindo, no homem, um espírito "novo". Por fim, Ezequiel
dá origem à corrente apocalíptica.
O
TEMPLO
Quando falamos de um
templo dedicado a uma divindade, entendo que este devesse ser erigido, com todo
o cuidado necessário para render a divindade o culto merecido e não para agradar
aos olhos do povo. Dar o que Deus merece, e não o que os homens almejam ou merecem.
Templos, por mais
suntuosos que sejam, não detém a glória divina, tampouco retém a santidade. Um
belo e confortável templo é sem dúvida agradável para se congregar, contudo não
se traduz em ser o melhor local para adorar a Deus, uma vez que o melhor local
para se adorar a divindade está dentro de cada um. O melhor templo para meu
Deus está dentro de mim.
Logo, quando buscamos a
nossa religião, a nossa religa+ação, ato de religar, ou como se diz atualmente
reconectar, ao Ser superior, não precisamos necessariamente estarmos em um
templo, pois o templo já está em nós, nós somos o mais perfeito templo da
Divindade.
Na visão hermetista, ou
hermética, "O que está em cima é como o que
está embaixo. O que está dentro é como o que está fora.", verificamos que a máxima significa que o seu consciente (em cima) é como o seu
subconsciente (em baixo) e o que está dentro (as emoções geradas em seu
subconsciente) é como aquilo que está externo (resultado no mundo físico gerado
pelo universo baseado em emoções e vibrações geradas pelo seu corpo). E ainda o
macrocosmo é igual ao microcosmo, o Universo está dentro de cada um. Este
portanto é o denominado princípio de correspondência, o qual nos diz que o
verdadeiro no macrocosmo é também verdadeiro no microcosmo e
vice-versa.
Nesta
visão, considerando sermos um reflexo do universo, ser o homem a criação à
imagem e a semelhança do Celestial, podemos então começar a entender que respeitar
o outro é respeitar a divindade, pois o Deus que habita em mim é o mesmo Deus
que habita em você.
Ao nos
recolhermos e meditarmos, buscarmos a prática do bem e do amor ao próximo,
exercermos a prática das orações, inicia-se a nova e principal construção
dentro do templo interior, iniciamos a construção do nosso Altar Particular,
onde de fato oferecemos nossas vidas aquele que nos deu o sopro da vida.
CONCLUSÃO
Deus é espírito, e é
necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade (João 4:24).
Então, adorar em espírito e em verdade é algo íntimo onde somente a onipotência
divina e o próprio adorador saberão se o culto rendido é verdadeiro.
Para se estar em comunhão
com o Divino não se faz necessário externar a prática, pois esta é de foro
íntimo, podemos facilmente vivermos sem o fanatismo que cega, afastando-nos da
razão.
Praticando boas ações,
dentro de uma conduta moral e ética, colocamo-nos como exemplos para a
sociedade, sem, no entanto, impormos a nossa ideia de conduta social, afinal o
exemplo arrasta.
Criamos assim o hábito da
prática do bem, fazemos rodar a roda da virtude, construindo uma sociedade
justa e fraterna, começando esta construção ao assentarmos com a argamassa do
espírito o primeiro tijolo de nosso Altar Particular, aquele que está alocado
dentro do Templo Humano, nossos corações.
Concluo
portando com as últimas frases de nosso texto base:
Trata-se de uma liturgia intimista,
que é praticada a sós, em um contato com o Criador a quem se suplica o
recebimento das benesses a que se faz jus.
Altar invisível para o mundo, mas
palpável para aquele que crê[6].
Ir∴ EUCLIDES CACHIOLI DE LIMA
Mestre
Maçom (M∴ I∴)
[1]
Breviário Maçônico / Rizzardo da Camino, - 6. Ed. – São Paulo. Madras, 2014, p.
40.
[2] Renascimento, Renascença ou Renascentismo, termos usados para
identificar o período da história da Europa entre meados do século XIV e o fim
do século XVI (1300 a 1600). Não há consenso sobre a cronologia, havendo
variações de datas conforme cada historiador.
[3] Palavras do Mestre e Doutor
Marcelino Fernandes - Coronel
Corregedor PMESP Coach e Master em PNL by Society of NLP™ USA; Criador do
Método M.A.I.S. e Diretor da Faculdade Legale, em conversa em rede social
(instagram) com o autor Euclides Cachioli.
18 Ezequiel 24:15-27:11
A
morte da mulher de Ezequiel
15 De novo veio a mim a palavra do Senhor: 16 “Homem mortal,
vou tirar-te a tua mulher, que é o teu encanto. Morrerá de repente, mas não
deverás mostrar pesar algum. Não chores; não deixes que te corram as lágrimas. 17 Poderás
lamentar-te, mas só em silêncio. Não deixes que haja gemidos à beira da
sepultura. Não andes de cabeça destapada nem descalço; não aceites ofertas de
comida que os amigos te possam trazer em sinal de simpatia.”
18 Disse estas palavras
de manhã ao povo e pela tarde a minha mulher morreu. Na manhã seguinte, fiz
tudo como o Senhor me disse.
19 Ouvi o povo que
perguntava: “Mas o que é que isto tudo significa? O que pretendes tu dizer-nos
com isso?”
20 Respondi-lhes:
“O Senhor mandou-me 21 comunicar
ao povo de Israel o seguinte: ‘Destruirei o meu belo e admirável santuário, a
força da vossa nação. Os vossos filhos e filhas na Judeia serão mortos à
espada.
[5] Idem, 18.
[6] Breviário Maçônico / Rizzardo da
Camino, - 6. Ed. – São Paulo. Madras, 2014, p. 40.