“Sonho com o dia
em que todos levantar-se-ão e compreenderão que foram feitos para viverem como
irmãos”.
Nelson Mandela
Vamos falar sobre fraternidade. Ensina a
Maçonaria que vontade e inteligência, sem o sentimento fraterno para com seus
semelhantes, poderá transformar o homem em um monstro de egoísmo, e este apesar
de todo o mal que poderá causar, desaparecerá, ou seja a existência não será
registrada para a posteridade. Devemos sempre aplicar o princípio racional de
três virtudes, Vontade – Inteligência – Amor Fraternal, assim conciliando
antagônicos chegaremos ao sentimento comum, de modo que um irmão jamais possa
prejudicar o outro.
É cediço, fraternidade deriva do termo
latino frater, que significa "irmão". A fraternidade universal
se traduz na boa relação entre os homens, em um ambiente onde há uma
sinergia própria dos irmãos consanguíneos.
Fraternidade fundamenta-se no respeito pela
dignidade da pessoa humana promulgando a igualdade de direitos entre
todos.
Dentro de uma conceituação filosófica
ela se une aos ideais da Revolução Francesa em 1789, embasados na busca de
liberdade, igualdade e fraternidade, por isso talvez, dentro da Maçonaria tenha
a palavra alçado o mais alto dos pódios.
Todavia, pergunto a fraternidade alçada
ao patamar mais alto é realmente exercida pelos maçons de hoje?
De todas as agremiações ou associações
existentes no orbe, deve-se tirar o chapéu para a instituição Maçonaria, pois esta
se faz a mais completa de todas e, se não for a mais, sem dúvida está dentre as
mais complexas, sendo perfeita e justa independente do rito que pratique. Qual
outra associação se caracteriza pela estrutura humana que possui, onde homens
de todas as etnias, credos e crenças, independente do ofício que exerça,
recebem estímulos, a buscarem, de modo uníssono em sacras premissas, a
felicidade e aliada a evolução da raça humana. No entanto, mentes vazias de
alguns (iniciados por algum motivo), criam necessidades questionáveis,
transitando e contaminando os meios maçônicos, como consequência nossa Excelsa
e Sublime Ordem afasta-se de sua realidade, fragiliza a unidade universal, pois
esses não esclarecidos ferem suas raízes, esquecem suas origens.
A Maçonaria nunca impôs limites à livre
investigação da verdade e é, com o fito de garantir essa liberdade, que ela
exige de todos tolerância e assim a convivência harmônica.
A maçonaria em verdade, não é possuidora
de doutrinas científicas tampouco sistemas religiosos; apenas clama pelo
trabalho, instiga o pensamento, organiza o ensinamento dos leigos pelos mais
esclarecidos; não realiza progresso científico, pois esse juntamente com a
ciência é fruto do labor de toda humanidade. A obra maçônica possui natureza
moral e social. O pensamento funda no amor o edifício moral e social da
Humanidade; motivo pelo qual o espírito de fraternidade não pode sofrer
máculas, pois estaria solapando o templo do pensamento maçônico.
Os ensinamentos maçônicos gradativamente
nos revelam como devemos lapidar nosso “EU”, dando-nos condição para
enxergarmos a ação tacanha e maléfica em nosso meio; melhor ainda: a ação de um
gênio mal que habita no âmago de nosso ser, sempre espreitando, aguardando o
melhor dos momentos para aflorar e assim dividir, separar; desunindo e desestabilizando
a egrégora manifestada no ambiente fraternal. É como o cristão vê o mal que
dividiu o Reino de Deus, separando-se dos anjos fiéis à vontade do Senhor;
segundo a visão religiosa o mal personificado na figura diabólica vaga no mundo,
como fez nos céus, tendo como premissa lançar a divisão desunir, afastar os que
congregam de um mesmo pensamento.
A grande diferença, entre nós maçons e
os religiosos, esteja na maneira como garantirmos a união fraternal, pois
reconhecemos em nós mesmos a disposição mesquinha do ser, por isso
sujeitamo-nos à pratica constante de lapidação do caráter e da moral, o que
chamamos de Desbaste da Pedra Bruta, representado nas inúmeras representações
esculturais onde o homem com o malho e o cinzel, quebra o bloco bruto de pedra em
torno de si, resurgindo como uma nova criatura, de ampla visão e caráter
ilibado, porém consciente que sempre haverá algo a melhorar em sua auto
lapidação.
Porém, o questionamento feito é, um
tanto quanto paradoxal, acerca da falta de espírito fraterno dentro de uma
instituição cujo ensinamento e vivência se dão pela excelência do amor
fraternal.
Indubitavelmente encontramo-nos em uma
era onde o mundo está dividido pela desigualdade, além das secções
geográficas, políticas e tantas outras. Mas a grande divisão não são estas
apresentadas, a grande divisão se manifesta no pior dos lugares e infelizmente
também atingindo muitos irmãos; a pior das divisões está no fundo do coração
humano, fruto do orgulho e da mesquinhez que ilude insinuando ser possível a
autossuficiência, como se o ser humano fosse capaz de nascer, crescer, viver e
morrer sem nunca ter precisado de ninguém. Sentimento pernicioso, conduzindo o
indivíduo à crença de que é melhor do que o outro, que é mais importante, ou
que pode mais do que seu semelhante.
Infelizmente esse nefasto sentimento
ocupa alguns irmãos, afastando-os da razão e do entendimento da palavra
fraternidade. Não é difícil encontrarmos nas lojas irmãos que se dedicaram ao
apoio a outros irmãos e tiveram como resposta a falta de reconhecimento, ou
pior a tentativa por parte do irmão “necessitado”, de inverter a situação se
passando por vítima, em uma promíscua demonstração de mau-caratismo, ou virando
as costas para aquele que na melhor das intenções lhe estendeu a mão.
Lembremos aquele que estende a mão para
outro não deve esperar nada em troca, porém, aquele que falta ao espírito de
fraternidade e esquece os preceitos não deve ser digno de confiança.
Novamente busquemos similitude nos
ensinamentos contidos em livros sagrados acerca da fraternidade, vejamos dois
exemplos, Bíblia e Alcorão:
Se teu irmão pecar contra ti, vai e, em particular
com ele, conversem sobre a falta que cometeu. Se ele te der ouvidos, ganhaste a
teu irmão. Porém, se ele não te der atenção, leva contigo mais uma ou duas
pessoas, para que pelo depoimento de duas ou três testemunhas, qualquer
acusação seja confirmada. (Bíblia)
E se alguém salvar uma vida, será como se tivesse
salvo toda a humanidade"
(Alcorão)
Alguns homens se esquecem de tudo, menos de serem
ingratos. (Alcorão)
Em um primeiro momento vemos a
necessidade de perdoar, porém de se resguardar contra aqueles que não se
permitem assumir que erraram. Em segundo momento o Alcorão ensina a unidade de
uma fraternidade universal, por fim no terceiro exemplo, também do Alcorão,
podemos ver a fragilidade humana manifestada na ingratidão, o que afasta-nos da
pureza do espírito fraternal.
Ao não nos permitirmos perdoar, ou nos
damos ao luxo de não reconhecermos nossos erros, o que é mais comum, estamos enaltecendo
a divisão, a qual nos conduzirá a acusarmos uns aos outros, colocando a culpa
neste ou naquele e, então, não seremos mais capazes de operar a conciliação e a
reconciliação. Observem como se dividem as casas, as famílias; não falemos de
divergências de opinião e de expressões de vida, pois estas são como a boa e
doce bebida, divergir sem desrespeitar é saudável para a construção do templo
chamado indivíduo, pois, na mesma casa, um pode pensar de um jeito, outro de
outro; o marido pode ver de uma forma e a mulher de outra. Isso não é divisão, a
diferença, a opinião diversa traz o crescimento, há evolução, é o ensinamento
adquirido ao estudarmos o pavimento mosaico, diferenças dentro de um mesmo
ambiente de respeito se completam; todos comungando de um mesmo saber, crescendo
como maçons e como seres melhores. Se for ao contrário disto, dando a
divergência lugar à divisão nefasta, fomentando o desrespeito e a falta de
consideração, estará livre o caminho para a destruição de nosso templo interior
e de nossa Ordem como um todo, pois não estaremos mais confiando uns nos
outros, estaremos longe do cantado por Davi em seu Salmo 133.
Fragmentação [causada pelo mal agir] se
dá quando um se põe contra o outro, quando um não é mais capaz de conviver com
o outro; quando nos fazemos inábeis para suportar diferenças, porque queremos o
mundo do nosso jeito, de nossa forma e da nossa maneira de pensar. Boicotamos-nos
e deixamos o sentimento mundano invadir nossas mentes e por estarmos cegos para
esse contágio, acabamos por não nos vigiarmos e assim ao estarmos em nossas
Lojas, contaminamos a egrégora e deturpamos os ensinamentos com presunções espúrias
sem direito a assento em nossas reuniões.
A energia da mudança que pretende
evolução do espírito deve tomar o maçom, tem que estar ligada ao amor
fraternal, pois se assim não for, estará o maçom no curso do mau intelecto,
tornar-se-á servidor das forças do mal por falta de discernimento.
Por fim, a divisão, arma do mau
intelecto, tenta reinar no seio da Ordem, por intermédio dos grupos e das
lideranças que, muitas vezes, exercem certa influência sobre os mais novos. Por
vaidades, já presenciamos muitas Lojas baterem colunas ou irmãos se desligarem
dos quadros, como se a culpa fosse da Maçonaria, porém a culpa está no maçom
que, apesar da boa visão, nega-se a enxergar com os olhos da alma e reconhecer
que na sua conduta existe o maléfico espírito da divisão e da desunião humana.
Já vimos esse mal em nossas casas, em nossas famílias; por isso, precisamos mais
do que nunca adquirir o hábito de pedir perdão a nossos irmãos, mesmo não sendo
o culpado dos desentendimentos, precisamos sublimar o espírito a sua condição
mais elevada, além do pensamento e compreensão esperada de um homem mediano,
precisamos ser mais maçons e menos profanos de avental.
Antes de questionarmos a Ordem e seus
puros métodos de ensinamento, devemos aprender a nos respeitarmos, ensinarmos
aos aprendizes mais valores e moral maçônica, ao invés de tentarmos passar
teorias que sabemos de ouvirmos falar, contaminando assim a pureza de nossas
instruções. Para que no futuro não digamos que não valeu a pena e que nada tem
a se aprender.
BIBLIOGRAFIA
- Ritual do Aprendiz Maçom
GLESP-2006
- Alcorão Sagrado – Federação
das Associações Mulçumanas do Brasil
- Bíblia Sagrada – Almeida revisada
e Atualizada – Sociedade Bíblica do Brasil
- WIRTH, Oswald - Os Mistérios
da Arte Real - Ritual do Adepto. Do original: Les Mystères de L’Art Royal
— Rituel de L’Adepte, de Oswald Wirth, Ed. “Le Symbolisme”, 1972. Tradução
para o português de M.B.T.
Ir\
EUCLIDES CACHIOLI DE LIMA
Past-Master
ARLS Cavaleiros do Hermon - 335
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