HUZZÉ, A ORIGEM
DA ACLAMAÇÃO ESCOCESA
Luiz
Sergio Castro
Na
maçonaria brasileira, os irmãos praticantes do REAA (Rito Escocês Antigo e
Aceito) estão bem familiarizados com a tripla aclamação Huzzé, utilizada na
abertura e no fechamento dos trabalhos, mas a sua origem é um pouco duvidosa
devido a confusão de teorias criadas por escritores que talvez não tivessem o
acesso a tanta informação quanto temos atualmente, e com a facilidade que a
internet nos proporciona.
Cito
abaixo algumas teorias bem conhecidas sobre a origem da aclamação:
– Huzzé é derivada de uma palavra hebraica que
significaria uma espécie de “acácia”, como símbolo de imortalidade;
– Palavra formada pela raiz O’z e sufixo Zé,
significando “É minha força” uma alusão ao GADU;
– Origem espanhola – alguns dizem que Cavaleiros
Templários que fugiram da França frente às perseguições do Rei Filipe e do Papa
Clemente V e se refugiaram no sul da Espanha, uniram-se a população local para
combaterem durante a guerra civil que assolava a região e a cada vitória eles
gritavam a palavra Huzzé em celebração;
– Aclamação realizada para expulsar o “ar impuro”,
mandando embora todo o negativismo que carregamos no dia-a-dia profano;
– Huzzé seria uma espécie de Hurra, como a aclamação
Hip, Hip, Hurra;
Diante
desta confusão, busco na história a origem e inserção desta prática na
maçonaria.
Um pouco de
história
Tudo
indica que a aclamação Huzzé, deriva da palavra Huzza dos ingleses, onde a
pronúncia com o tempo, criou a modificação na escrita.
O
livro Essential Militaria de Nicholas Hobbes nos informa que nos séculos XVII e
XVIII, Huzza era um cumprimento ou saudação usado pelos marinheiros, para
homenagear quem embarcava ou desembarcava. Menciona também que a expressão era
um grito repetido em uníssono, sincronizadamente, quando os marujos atuavam em
conjunto para puxar os cabos das velas ou as amarras das embarcações.
Há
relatos de que nos séculos XVIII e XIX, três Huzzas eram dados pela infantaria
britânica antes dos disparos, como meio de ganhar moral e de intimidar o
inimigo. Há quem diga que eram dois huzzas curtos seguidos de um terceiro, mais
longo, dado durante a carga final.
Foi
dessa forma, acreditamos, que o brado utilizado no REAA deve ter chegado aos
marinheiros ingleses e depois, pelo fato da Inglaterra ser um país onde as
atividades navais ocupavam grande destaque, passado ao resto da sociedade não
só como exclamação de alegria e aprovação, mas também como designativo de união
e atitude solidária. Disso, talvez, advenha sua adoção pela maçonaria.
Mas quando esta
aclamação passou a ser utilizado pelos maçons?
William
Preston, em seu livro Illustrations of Masonry, descreve com detalhes o evento
ocorrido em 1753 na Escócia, no evento de lançamento da pedra fundamental do
conjunto de edifícios chamados “The New Exchange of Edinburgh”, onde foi
realizada uma procissão de 672 irmãos, que foi iniciada em frente a famosa Mary´s
Chapel, em caminhada até o local onde seria lançada a pedra fundamental.
A
procissão foi recebida por mais de 150 militares juntamente com uma companhia
de granadeiros, em duas linhas, sob as armas, que escoltaram a procissão. Este
fato foi de tão importância para os maçons, que o Grão-Mestre da Escócia, Lorde
Carysfort, descreveu a honra de estar presente a tal acontecimento e ao
realizar a cerimônia de lançamento da pedra fundamental, deu três pancadas na
pedra com o Maço, seguido de três huzzas, provavelmente em homenagem aos
militares ali presentes tendo visto a forte relação dos militares com a
maçonaria.
Após
alguns procedimentos do evento, o Grão-Mestre proferiu a frase “Que a mão
generosa do céu abasteça esta cidade com abundância de milho, vinho, óleo e
todas as outras conveniências da vida! Huzza, Huzza, Huzza!!!”.
Outro
livro descreve a utilização da aclamação na Escócia ainda no século XVIII,
geralmente em lançamentos de pedras fundamentais. A obra escrita William
Alexander Laurie em 1804, sob o nome “The history of free masonry and the Grand
Lodge of Scotland” cita que a prática militar de aclamar três Huzzas juntamente
com o tocar de trombetas, diversas vezes foi realizada para recepcionar os
maçons nos eventos.
O
escritor inglês John Dunton, no livro “Cartas da nova Inglaterra”, registra o
costume militar de se saudar autoridades com gritos de Huzza, muito comum entre
os militares ingleses e escoceses. Huzza era o grito de guerra usado pelas
tropas da marinha inglesa, bem como a do corpo de granadeiros.
Em
1778, para celebrar a aliança realizada com a França, o general George
Washington diz ao seu exército: “Huzza,
Viva o rei da França, Huzza, Vivam os amigos das potências europeias, Huzza,
Viva o Estados Unidos da América”.
E
finalmente, o exército Inglês faz uso dessa expressão (Huzza) em uma canção de
marcha dirigida contra os franceses:
“And, Monsieurs,
you’ll find us as good as our words:
Beat drums,
trumpets sound, and Huzza for our King!
Then welcome
Bellisle, with what troops thou canst bring!
Huzza! for Old
England, whose strong-pointed lance
Shall humble the
pride and the glory of France.”
Observando
a aclamação nos rituais
Embora
a aclamação Vivat, Vivat, Vivat, já apareça em 1737, com a divulgação de “La
réception d’un Frey-Maçon” e no rito adohiramita com o “Recueil Precieux de la
Maçonnerie Adonhiramite”, o triplo Huzzé e suas variantes não aparecem nos
documentos do século XVIII.
Nas
primeiras divulgações como o Maçonaria Dissecada (1730) e o Três Batidas
Distintas (1760), apesar de aparecerem os três golpes de malhete na abertura
dos trabalhos, não faz referências a aclamação.
Somente
em 1804, no “Guia dos Maçons Escoceses”, também chamado de “Livro dos três
graus simbólicos do rito antigo e aceito”, que a tripla aclamação surge na
abertura e fechamento dos trabalhos da loja, neste momento escrito como
“Houzze”.
Depois,
em 1813, no livro “Tuileur de l’Écossisme” de Delaulnaye, novamente é
registrada a utilização da aclamação escocesa (Houzze) na abertura da loja.
Conclusão
Estou
convencido que a tripla aclamação escocesa foi inserida na maçonaria por
influência dos militares e dos eventos ocorridos no século XVIII e descritos
acima, era muito comum o alto escalão militar estar composto por maçons que
ocupavam também cargos de importância na administração da maçonaria. O Huzzé
foi usado inicialmente como uma exclamação de alegria e comemoração, simples
assim, sem invenções e significados mirabolantes.
Bibliografia:
Illustration
of Masonry – William Preston
The
history of free masonry and the Grand Lodge of Scotland – William Alexander
Laurie
Essential
Militaria – Nicholas Hobbes
Tuileur
de l’Écossisme – Delaulnaye
Por Ir.'. Luciano Rodrigues
Por Ir.'. Luciano Rodrigues
Muito interessante, li algo a respeito do bem que pode fazer aclamação fora de loja em momento de dificuldade... Segundo está literatura faz um bem a pessoa no momento....
ResponderExcluirE já experimentou fazer o teste amado Irmão Fábio?
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