(*)
Antonio Díez
A
música é a arte de produzir e combinar sons, acordes de todos os elementos de
criação sonora: instrumentos, ritmos, sonoridades, timbres, tons, organizações
seriais, melodias, harmonias, etc. Em seu sentido mais primitivo é a arte de
produzir e de combinar os sons de uma maneira tão agradável ao ouvido, que suas
modulações comovem a alma.
Em
todas as civilizações, a música cobra um papel importante nos atos mais
relevantes, social ou pessoalmente, aonde exerce um papel mediador entre o
diferenciado (material) e o indiferenciado (a vontade pura), ou entre o
intelectual e o espiritual. Por ele cobra especial importância nas cerimônias
ritualísticas, ainda pela sua capacidade de promover as emoções. A música
representa o equilíbrio e ordem; é uma linguagem universal.
Na
Maçonaria a música representa uma das sete artes liberais, simbolizando a
harmonia do mundo e especialmente a que deve existir entre os maçons. Através
da beleza dos sons e da harmonia dos ritmos se chega à sabedoria do silêncio.
A música é a arte de organizar os sons.
Toda arte consiste em organizar um material de acordo com as ‘Leis’ e um
propósito.
A
música é nela mesma e por essência, uma maçonaria, uma construção de caráter
iniciático. Os elementos que a compõem não são os sons, pedras brutas, se não
as notas, pedras talhadas. Os três parâmetros que precisa a talha da pedra, a
precisa o som:
A
Força que reside na densidade.
A
Sabedoria em seu ‘tempo’ ou longitude.
A
Beleza em sua altura ou frequência.
As
pedras justas e perfeitas do edifício musical devem ser encaixadas: a música é
uma construção, uma arquitetura, uma ‘arte real’ que nos revela as leis
universais da ‘Grande Obra’ que podemos organizar em três etapas.
O
Silêncio, vazio necessário antes da manifestação, é o estado de aprendizagem. O
Som, a manifestação, a tomada de consciência, o despertar do companheiro. A
Melodia, a organização do som pelo maestro.
Pode-se
encontrar outra analogia em três etapas, entre o método de formação do músico e
do maçom:
O
Aprendiz: Estuda a música em si mesmo (canta). Aprende a decodificar uns
símbolos ou signos (solfejo) e escolhe seus instrumentos. Para ele precisa de
um mestre ou instrutor.
O
Companheiro: Alcança a soltura na interpretação dos signos e na utilização de
seus instrumentos. Colabora com outros companheiros no canto e na interpretação
(polifonia, conjuntos instrumentais). Estuda a história, os estilos e aos
grandes mestres. Nesta etapa o companheiro entra em um processo de
auto-formação.
O
Mestre: Sua tarefa é alcançar uma interpretação pessoal, uma vivência que faça
possível a transmissão do trabalho. O mestre trabalha em solidão, mas precisa
de um aprendiz, do qual aprende tudo o necessário para alcançar o autêntico
mestrado. Com esta relação se encerra o ciclo.
A
música na Loja está representada pela Coluna de Harmonia que é o conjunto
instrumental ou reprodutor musical destinado à execução da música maçônica no
curso das cerimônias ritualísticas.
Nas
Lojas, até que no século XVIII começaram a se introduzir instrumentos de corda,
trombetas e tambores, só se empregavam vozes.
A
designação de ‘Coluna de Harmonia’ aparece no final do reinado de Luís XV para
se referir ao conjunto de instrumentos que tocavam na cerimônias, que
contava com um máximo de sete instrumentistas: 2 clarinetes, 2 trompas, 2
fagotes e 1 tambor.
Logo,
a competência entre as lojas por contar com os mais virtuosos instrumentistas
originou que se admitisse nas mesmas músicos, que isentos de cotizações
prestavam estes serviços (ainda que só podiam aspirar ao grau de Mestre), e
compunham obras para as diferentes cerimônias maçônicas (sessão, banquetes,
fúnebres, iniciações, etc.); estes irmãos artistas tinham o mesmo direito a
voto que o resto dos irmãos e na grande cerimônias, celebrações e banquetes
estavam obrigados a contribuir com sua arte.
A
Coluna de Harmonia tem como missão colaborar um complemento ao ritual, portanto
é uma música funcional, cujo valor não depende em primeiro lugar de seu valor
intrínseco, se não de sua adequação ao destino que se lhe objetivava.
Quiça
a mais alta representação da música maçônica corresponda a W. A. Mozart quem
foi iniciado como aprendiz maçom no dia 14 de dezembro de 1784 na loja A
Esperança Coroada (La Esperanza Coronada) e com este motivo se interpretou na
loja sua cantata ‘A ti alma do Universo, OH Sol’ (K.429) na que a ária do tenor
é um hino ao sol e à luz; cantata duplamente adaptada à celebração da grande
festa maçônica de São João do verão (mais conhecida como de solstício de verão)
e ponto culminante do ano maçônico; e que encaixa igualmente na cerimônia de
iniciação do primeiro grau maçônico, quando o aprendiz, depois de ter sofrido
as provas simbólicas, recebe a luz.
Agradecido
e apaixonado pela sua Loja, compôs para ela os mais notáveis cantos, nos que
não se limitou a expressar de uma maneira simples e bela o sentido das
palavras, se não que deu às notas todo o calor de sua fantasia, todas as nobres
e levantadas aspirações de uma alma comovida pelo bom e pelo belo e ardendo de
amor pela humanidade. Com motivo da cerimônia de elevação de seu pai ao grau de
companheiro, pôs música a um poema de Joseph Von Ratschky, ‘A viagem do
companheiro’ (K 468) para canto e acompanhamento de piano.
Uns
meses antes da ascensão ao terceiro grau da maçonaria assistiu em 11 de
fevereiro de 1785, na loja vienense ‘A verdadeira Concórdia’, a iniciação
maçônica de seu amigo Joseph Haydn no grau de aprendiz, e a quem Mozart, com
este motivo, dedicou os ‘Seis quartetos de corda’.
Pouco
antes da dupla investidura que Mozart e seu pai receberam em 2 de abril de 1785
como mestres maçons na loja vienense ‘A esperança coroada’, compôs para esta
loja duas de sua mais importantes composições maçônicas: ‘A alegria maçônica’
(K 471) e a ‘Música fúnebre maçônica’ (K 477).
Em
1786, com motivo de uma reorganização das lojas vienenses ordenadas pelo
imperador José II, Mozart compôs para sua loja ‘A nova esperança coroada’ duas
cantatas maçônicas: ‘Para a abertura da loja’ (K 483) e ‘Para o fechamento da
loja’ (K 484).
Encontramo-nos,
entretanto, com três obras de Mozart ligadas à maçonaria e nela que descobrimos
a Mozart comprometido com a liberdade e com os ideais da Revolução Francesa,
especialmente em ‘Vós que honrais ao Criador do Universo infinito’ (K 619), que
é uma mensagem dirigida à juventude alemã no momento em que comporia a ópera da
fraternidade universal. As outras duas composições estritamente maçônicas às
que Mozart pôs música foram uma pequena cantata maçônica, ‘Elogio da amizade’
(K 623), (datada em Viena em 15 de novembro de 1789) e ‘Cruzemos nossas mãos’
(K 623a) e que se canta formando a cadeia de união.
Sua
obra póstuma, seu canto de cisne foi a que intitulou ‘Pequena Cantata
Maçônica’, cuja audição deu em uma sessão de sua loja, dirigindo ele mesmo a
audição, dois dias antes de sentir-se atacado pela enfermidade misteriosa que
lhe conduziu ao sepulcro.
Resulta
emocionante ver a Mozart no umbral da morte, esquecendo-se de si e de sua
augusta física, cantando a fraternidade unida no trabalho, e a presença da luz
no ímpeto e no calor da esperança. Três semanas mais tarde, falecia.
Uma
relação de músicos ou músicas inspiradas pelos ideais maçônicos seria
inacabada, mas talvez os mais representativos sejam: J. Haydn, I. S. Bach, L.
W. Beethoven e F. Liszt.
(*)
Antonio Díez
Fonte:
Revista Hermética Nº 5.
Tradução
livre feita por: Juarez de Oliveira Castro.
Em: http://omalhete.blogspot.com.br/2016/04/musica-e-maconaria.html - Acesso em: 111433ABR16.
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