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CAVALEIROS - alusão aos Templários, às Cruzadas e à Távola Redonda. HERMON - o termo remete-nos ao Monte Hermon, em cujo topo se forma a neblina que se condensa em forma de garoa, o orvalho consagrado pelo Salmo 133. Essa precipitação "tolda parcialmente o sol escaldante do sul do Líbano, e umedece seu solo, transformando-o numa das regiões mais férteis e amenas do Oriente Médio."

Nós Cavaleiros do Hermon, na constante busca para tornar feliz a humanidade, sob a égide do Grande Arquiteto do Universo, que é Deus, nos reunimos às sextas-feiras a partir das 20h00 , na Avenida Pompéia, 1402 - Templo Ir.'. Willian Bucheb - São Paulo - SP.

quinta-feira, 31 de março de 2016

LANDMARK



Por: Ir.’. Antonio Onías Neto M .`. I .`.

Qual a origem e o significado da palavra LANDMARK?
Ela origina-se do inglês. LAND: terra, país, terreno ou território,MARK: marco, sinal, mancha. Em inglês define-se LANDMARKcomo lugar conhecido, ou marco de território. Em português diríamos marca de terreno, estaca, baliza, lindeiro, marco lindeiro, linda, limite territorial.
Vamos encontrar nesse sentido, pela primeira vez, na Bíblia em:
Jó, 24, 2 – “Há os que removem os limites,…”
Deuteronômio, 19,14 – “Não removerás os marcos do teu próximo, os quais teus antecessores fixaram na tua herança…”
Deuteronômio, 27,17 – “Maldito aquele que remove os marcos do seu próximo.”
Provérbios, 22, 28 – “Não removas o antigo marco, que teus pais puseram.”
Provérbios, 23, 10 – “Não removas o antigo marco, nem entres nos campos dos órfãos; …”
Na Maçonaria, vemos, com o sentido de antigas obrigações, usos, costumes, tradições, ser empregado pela primeira vez em 1721, na compilação dos Regulamentos Gerais da Grande Loja de Londres, em seu artigo 39, quando era Grão Mestre nosso irmão George Payne: “Cada Grande Loja anual tem inerente poder e autoridade para modificar este Regulamento ou redigir um novo em benefício desta fraternidade, contanto que sejam mantidos invariáveis os antigos Landmarks…”
No entanto, já em 1723, a Assembléia Geral da Grande Loja da Inglaterra substitui a palavra “Landmark”, por “RULE”, ou seja, “REGRA”.
Vejamos como a maioria dos autores maçônicos se expressa sobre os Landmarks:
Albert G. Mackey – “Há diversidade de opiniões entre os tratadistas a respeito da natureza dos antigos landmarks da Maçonaria: porém o melhor método será limitá-los aos antigos e universais costumes da Ordem que acabaram por concretizar-se em regras de ação, ou que se articularam em leis por alguma autoridade competente, e o seria em tempo tão remoto que não deixou sinal na história.” (Jurisprudence of Freemasonry, e apresenta sua relação com 25 landmarks)
Albert Pike – “Os princípios fundamentais da antiga Maçonaria Operativa eram poucos e simples e não se chamavam Landmarks.” (Atas da Veterana Associação Maçônica, transcritas por T. S. Parvin, onde critica Mackey e no final relaciona 5)
Bernard E. Jones – “Seria impossível, portanto, alguém dogmatizar em matéria em que a Grande Loja (a da Inglaterra) não fez qualquer pronunciamento, e em que os Maçons com experiência não podem concordar. Infelizmente existe a tendência de se usar a palavra “landmark” como um substantivo conveniente para descrever algo que não tem significado definido.” (Freemasons Guide and Compendium).
George Oliver, Rev. – “A respeito dos landmarks da Maçonaria, alguns se limitam aos sinais, toques e palavras. Outros incluem as cerimônias de iniciação e exaltação; os ornamentos, paramentos e jóias da Loja ou seus símbolos característicos. Outros opinam que a Ordem não tem outros landmarks além de seus segredos peculiares.” (Dictionary of Symbolic Masonry e apresenta sua relação com 31).
H. G. Grant – “Não pode considerar-se landmark da Maçonaria o que não está estabelecido pelos escritos de nossos pais ou reconhecidas autoridades como regra ou crença dos Franco-maçons em 1723, ou antes, ou que não esteja aceita como marca.” (Ancient Landmarks with suporting evidence, e apresenta sua relação com 54)
John W. Simons – “Consideramos como marcas os princípios de ação que identificam com a forma e essência da Maçonaria, e, que a grande maioria aceita, são invariáveis e todos os maçons estão obrigados a manter intactos, sob pena de irrevogáveis sanções.” (Principles of Masonic Jurisprudence, mas apresenta sua relação de 15)
Josiah Drummond – “Tudo quanto podemos saber é que são leis e costumes existentes desde tempo imemorial. Se há algum uso universal de origem desconhecida, é um landmark.” (Maine Masonic Text Book)
Jules Boucher – “Na Maçonaria francesa, a “Liberdade de Pensamento” é um “landmark” fundamental e, paradoxalmente, este “landmark” não tem limites!” (“La Symbolique Maçonnique”, pg. 217)
Luke A. Lockwood – “Os landmarks da Maçonaria são aqueles antigos princípios e práticas que assinalam e distinguem a Maçonaria como tal, e são fonte de jurisprudência Maçônica.” (Masonic Law and Practice, apresentando 19 Landmarks)
Oswald Wirth – “Os landmarks são de invenção moderna e seus partidários jamais conseguiram se por de acordo para fixá-los. Isso não impede que os anglo-saxões proclamem sagrados esses limites essencialmente flutuantes, que ajustam de acordo com seus particularismos. Cada Grande Loja fixa-os de acordo com seu modo de compreender a Maçonaria; a maçonaria é compreendida de modos muitos diferentes, razão das definições contraditórias, destrutivas da unidade dentro de uma instituição que visa à concórdia universal.” (Qui est Régulier)
Robert Morris – “Os dogmas invariáveis que a assinalam dão a conhecer e mantêm os limites da Francomaçonaria.” (Dictionary of Freemasonry e relaciona 17)
W. B. Hextal – “Os antigos landmarks da Francomaçonaria, como todo outro landmark material ou simbólico, só se podem manter estáveis quando se apóiam em seguros fundamentos. Ao se aprofundar o filósofo sobre a pedra em que descansem descobre que o nosso seguro fundamento é o trino dogma da fraternidade de Deus, a fraternidade dos homens e a vida futura. Todas as leis, usos, costumes e métodos que não se apóiem neste dogma básico, serão convenções ou acomodações, porém de modo algum participarão da natureza dos antigos landmarks.” (Ars Quattuor Coronati, volume XXV)
Entre os brasileiros nós podemos citar:
Henrique Valadares (Cayru) – “Os landmarks delimitam o que é Maçonaria e o que não é Maçonaria: o que estiver nos landmarks, ou dentro deles, é Maçonaria regular; o que estiver fora dos landmarks não é Maçonaria ou é Maçonaria espúria”. São os “limites”. O Livro das Constituições de Anderson refere-se aos “antigos Landmarks”, que devem ser “respeitados cuidadosamente”.
“Para que uma regra ou norma seja considerada landmark tem que reunir em si vários requisitos:
a) antigüidade, isto é, deve existir desde um tempo imemorial. Por isso, se hoje as Autoridades maçônicas pudessem reunir-se e decretar uma lei universal, esta não seria absolutamente um landmark.
b) espontaneidade e generalidade, isto é, o landmark não tem autor conhecido, não se origina de nenhuma autoridade pessoal, só é landmark todo uso universal, de origem desconhecida.
c) invariabilidade e irrevogabilidade, isto é, todo landmark é inalterável.”
(O Aprendiz-Maçom)
Nicola Aslan – “Evidentemente, o problema dos Landmarks continuará sem solução possível, e de nada irá adiantar a melhor definição ou a melhor compilação apresentada, porque sempre será um trabalho estabelecido sobre a areia. Como já tivemos oportunidade de dizer para nós, os Landmarks, e particularmente os de Mackey, que obtiveram o maior sucesso, representam, ou para melhor dizer, pretenderam representar dentro da Maçonaria o mesmo papel que as Falsas Decretais desempenharam, outrora, dentro da Igreja Católica.” (Landmarks e outros problemas Maçônicos)
Vanildo de Senna – “Os Landmarks, na verdade, constituem atualmente, problema de difícil solução. Tratadistas, jurisconsultos e todos quantos deles se ocuparam jamais puderam chegar a um acordo no sentido de defini-los, enumerá-los, classificá-los e interpretá-los.” (Landmarks – Tese, Antítese e Síntese)
Se formos verificar a relação dos Landmarks existentes observaremos a diversidade dos mesmos, quase todos levantados por Virgílio A. Lasca e alguns por nós constatados:
São somente 3 para Alexandre S. Bacon e Chetwood Crawley;
5 para Albert Pike , aceitos por Morivalde Calvet Fagundes eJosé Castellani;
6 para Jean Pierre Berthelon e para a Grande Loja de Nova York, tomando por base os capítulos em que se dividem as Constituições de Anderson.
7 para Roscoe Pound e o cubano Carlos f. Betancourt, adotados pela Grande Loja de Virgínia;
8 para a Grande Loja de Massachusetts, repetindo a relação de Mackey, apenas diminuindo-lhe a numeração;
9 para J. G. Findel, aceitos pelo Rito Moderno;
10 para a Grande Loja de Nova Jersey;
12 para A. S. MacBride;
14 para Joaquim Gervásio de Figueiredo;
15 para John W. Simons adotados pela Grande Loja de Tennessee;
17 para Robert Morris;
19 para Luke A. Lockwood adotados pela Grande Loja de Connecticut;
20 para a Grande Loja Ocidental da Colômbia;
23 para a Grande Loja de Louisiana;
25 para Albert G. Mackey e Chalmers I. Paton, aceitos pelasGrandes Lojas Brasileiras;
26 para a Grande Loja de Minnesota;
29 para Henri A. Lecerff;
31 para o Rev. George Oliver;
54 para H. G. Grant adotados pela Grande Loja de Kentucky.
Por seu lado, a Grande Loja Unida da Inglaterra, embora não chame de Landmark, fixa 8 condições sem as quais não reconhece outro Corpo Maçônico.
Como vemos cada Grande Loja adota uma compilação, e cada estudioso do assunto acrescenta mais uma.
Não cansaremos os leitores com a transcrição de todas elas, nos restringiremos a citar textualmente a de Findel, que é aceita pela maioria das Lojas do Rito Moderno, embora também se possam fazer ressalvas sobre alguns deles, e comentaremos item por item a de Mackey, endeusada pela maioria dos Maçons brasileiros, inclusive faltando com a verdade ou a transcrevendo ora com a supressão, ora alterando-lhe o conteúdo, com a intenção de não ferir susceptibilidade de alguns ou de conseguir mais adeptos.
Compilação de Findel
1.- A obrigação de cada Maçom professar a religião universal em que todos os homens de bem concordam. (Praticamente transcrevendo as Constituições de Anderson)
“Um Maçom está obrigado, por sua condição, a obedecer à Lei Moral, e se compreende bem a Arte, não será jamais em um estúpido Ateu nem um Libertino irreligioso. Mas se bem que nos Tempos antigos fossem obrigados em cada País a ser da Religião, qualquer que fosse, desse País ou dessa Nação, contudo é considerado mais conveniente de somente os sujeitar àquela Religião sobre a qual todos os Homens estão de acordo, deixando a cada um suas próprias Opiniões, isto é, serem Homens de bem e leais, ou Homens de Honra e de Probidade, quaisquer que sejam as Denominações ou Confissões que os possam distinguir; pelo que a Maçonaria se torna o Centro de União, e o Meio de firmar uma Amizade entre Pessoas que teriam ficado perpetuamente Distanciadas.”
2.- Não existem na Ordem diferenças de nascimento, raça, cor, nacionalidade, credo religioso ou político.
3.- Cada Iniciado torna-se membro da Fraternidade Universal, com pleno direito de visitar outras Lojas.
4.- Para ser Iniciado é necessário ser homem livre e de bons costumes, ter liberdade espiritual, cultura geral e ser maior de idade.
5.- A igualdade dos Maçons em Loja.
6.- A obrigatoriedade de solucionar todas as divergências entre os Maçons dentro da Fraternidade. (Como eu gostaria que isso se tornasse realidade…)
7.- Os mandamentos da concórdia, amor fraternal e tolerância; proibição de levar para a Ordem discussões sobre assuntos de religião e política.
8.- O sigilo sobre os assuntos ritualísticos e os conhecimentos havidos na Iniciação.
9.- O direito de cada Maçom colaborar na legislação maçônica, o direito de voto e o de ser representado no Alto Corpo.

Classificação de Mackey
1.-Os meios de reconhecimento.
Ora, os modos de reconhecimento na maçonaria nem sempre foram os mesmos. A princípio todos os sinais eram dados assim que os Aprendizes eram iniciados. As palavras de passe e sagrada são diferentes nos diferentes Ritos. A palavra que substituiu a palavra perdida é diferente nos diversos ritos, e os sinais e toques também o são. Portanto a existência dos meios de reconhecimento são um landmark, mas não cada um deles em si. Alguns mudaram desde a fundação do Rito até os dias atuais.
2.- A divisão da Maçonaria em 3 graus.
Sabemos que antes de 1717, quando da fundação da primeira Grande Loja, só havia dois graus na Maçonaria. O grau de Mestre só foi criado em 1725 e institucionalizado em 1738, e considerado regra pela Grande Loja em 1813. Se um landmark deve ser imemorial, este não poderia ser um.
3.- A Lenda do 3º Grau.
Somente após a criação do grau de Mestre é que foi criada esta Lenda. Portanto não é imemorial. E, outra, o Herói da Lenda é diferente nos Ritos Hiramitas e Adonhiramitas. A estrutura da Lenda também. Uma lenda egípcia adaptada à Bíblia judaico-cristã.
4.-O governo da Fraternidade deve ser exercido por um Oficial denominado Grão Mestre, eleito por todo o povo Maçônico.
A criação do cargo de Grão Mestre de uma Potência, conforme entendemos hoje, só foi acontecer após a fundação da Grande Loja da Inglaterra. Anteriormente, o nome Grão Mestre era também utilizado para Veneráveis de Lojas, e não de toda a Fraternidade.
5.- A prerrogativa do Grão Mestre de presidir toda reunião maçônica, onde e quando se realize.
A objeção é mesma que a anterior, só depois da criação de um Alto Corpo, reunindo maçons de todas as Lojas é que houve o que seria o cargo atual de Grão Mestre.
6.- A prerrogativa do Grão Mestre de conceder licença de conferir graus em tempo anormais, com dispensa dos prazos.
Repetimos a mesma alegação dos anteriores itens.
7.- A prerrogativa que tem o Grão Mestre de autorizar fundação e manutenção de Lojas Maçônicas.
Anteriormente, as Lojas eram fundadas por decisão dos Maçons, sem influência estranha. Era o lema “Maçom livre em Loja livre”. A prática das Cartas Constitutivas é recente.
8.- A prerrogativa do Grão Mestre de “fazer maçons à vista”, ou seja, reunindo determinado número de Irmãos poderem iniciar sem que sejam necessárias sindicâncias, provas ou o que mais seja da iniciação.
Isso já foi feito no Brasil, infelizmente, com drásticas conseqüências.
Como se vê, os chamados landmarks, do 4º ao 8º, são regras que cabem mais num estatuto, numa constituição, podendo ser alterados por decisão do povo Maçônico, como já o foram.
9.- A necessidade dos Maçons de se congregarem em Loja.
Finalmente, encontramos uma afirmativa que efetivamente é um “landmark”, na concepção de seus definidores. Desde que concebeu a Maçonaria os seus membros se reúnem em organismos denominados Lojas.
10.- O governo da Fraternidade, quando reunida em Loja, deve ser exercido por um Venerável e dois Vigilantes.
Este é efetivamente um landmark, pois desde tempos imemoriais, mesmo quando não havia os graus, as Lojas eram presididas por um Presidente (Mestre da Loja) e dois Vice-Presidentes (Senior Warden e Junior Warden) , escolhidos entre seus membros.
11.- A necessidade de uma Loja, quando reunida, estar resguardada ou coberta.
O sigilo maçônico assim o exige, eis outra regra definitiva.
12.- O direito de todo Maçom se fazer representar nas reuniões gerais da Fraternidade, e de instruir seus representantes.
Anteriormente os Maçons (aprendizes ou companheiros) compareciam pessoalmente às reuniões do povo Maçônico, mas não podiam ser representados. O direito de representação foi criado posteriormente, e é diferente conforme a legislação da Obediência, quer seja Grande Loja ou Grande Oriente. Em uma os representantes são o Venerável e os Vigilantes, e no outro é o deputado.
13.- O direito de recurso de cada Maçom perante a Grande Loja ou Assembléia Geral.
Nos primórdios da Maçonaria Especulativa não existia esse direito de recorrer da decisão de uma Loja a que pertencesse o Maçom, pois a Loja era livre e não filiada a nenhum Alto Corpo. E, atualmente, por exemplo, tanto nos Grandes Orientes como nas Grandes Lojas existem órgãos judiciários específicos para decidir recurso de Maçom.
14.- O direito de todo Maçom visitar e tomar assento em qualquer Loja.
Tentem visitar uma Loja inglesa. Antes do atual Tratado da Grande Loja com o Grande Oriente houve Irmãos barrados em Loja da Grande Loja. E, por outro lado, qualquer membro de uma Loja pode vetar a entrada de um visitante. A regra citada deveria ser válida, mas infelizmente não o é.
15.- Nenhum visitante, desconhecido dos Irmãos de uma Loja, pode ser admitido à visita, sem que, antes de tudo, seja examinado, conforme os antigos costumes.
Seria no caso o inverso do landmark anterior, no entanto, como a maioria não conhece os toques, os sinais e as palavras de outros Ritos, é de fato não cumprido. Já ouvi Vigilante dizer que “batem irregularmente à porta do templo”, quando ouve as baterias de outro Rito que não o seu.
16.- Nenhuma Loja pode intrometer-se em assuntos que digam a outra, nem conferir graus a Irmãos de outros quadros.
Em tese, é verdadeiro, no entanto, um visitante pode votar contra o ingresso de um profano em uma Loja, o que é certa forma de se imiscuir em assuntos de outra, e isto jamais foi proibido nem poderia sê-lo. Quanto a conferir graus, pode, desde que por delegação da Loja de origem do Irmão.
17.- Todo Maçom está sujeito às leis e aos regulamentos da Jurisdição Maçônica em que reside, mesmo não sendo membro de qualquer Loja.
Outra afirmação que, em tese, é de aceitar, posto que não se filiar já seria uma infração maçônica, no entanto, a residência temporária está sendo considerada? Poderia a Obediência regional obrigar o Maçom designado a prestar serviços por tempo determinado em outro país, ou região, a filiar-se à sua Jurisdição sob a ameaça de infringir um landmark?
18.- Todo candidato à iniciação deve ser homem livre de nascimento, não mutilado ou isento de defeitos físicos e maior de idade.
Que maioridade? Civil, eleitoral ou criminal? Os lowtons, em nossa legislação, têm direitos especiais quanto à idade.
O escravo liberto ou o filho de escravo não poderia ser iniciado? No Brasil o foram.
Quando se impunha a iniciação apenas dos homens as mulheres eram submissas, em todo sentido. O são agora? Atualmente, há algumas que são mais livres que alguns homens. E mais capazes.
È bom citar o que constava no Poema Régio ou Manuscrito Régio ou ainda Manuscrito Halliwell, de 1390, um dos primeiros documentos da Maçonaria Operativa senão o primeiro conhecido, em seu preâmbulo onde vemos: “Pois assim cada um poderia ensinar ao outro e amar-se mutuamente como Irmão eIrmã”, e no seu artigo X consta “Nenhum Mestre deve suplantar outro Mas ficar juntos como Irmão e Irmã”. Nada faz crer ou admitir que o termo Irmã não se referisse a presença da mulher, portanto a proibição é recente.
A higidez exigida é efetivamente total, no entanto, conhecemos diversos Irmãos mutilados; já soubemos de casos históricos de cegos iniciados, a própria Constituição exige, atualmente, que a higidez lhe dê condições de praticar todos os atos ritualísticos. Seria essa exigência atual? E o avanço no campo das próteses? Permanece este landmark por séculos, como, infelizmente, se exige.
19.- Que todo Maçom deve crer na existência de Deus como Grande Arquiteto do Universo.
Não seria a exigência um dogma, que fere os princípios Maçônicos? A Maçonaria tem princípios, não dogmas. Anderson falava em religião universal, não definia no que deve crer. A Grande Loja Unida da Inglaterra chega a exigir uma religião monoteísta, como ficariam os panteístas e os politeístas, de diversas facções. Eles são religiosos. Houve época em que algumas Lojas exigiam a crença no dogma da Trindade. Quando se pretendeu fixar esta afirmativa como landmark, sequer se conheciam todos os tipos de crenças existentes no planeta. Só é permitido ser Maçom se for de origem judaico-muçulmano-cristão? Onde a liberdade de crença? Onde a exclusão do preconceito religioso?
Melhor seria falarmos na crença, na aceitação de um Princípio Criador, que abrangeria melhor todas as possíveis formas de credos, conforme consta da Constituição do Grande Oriente do Brasil.
20.- Subsidiária à crença em Deus, a crença em uma vida futura e na imortalidade da alma.
Vemos que alguns landmarks, como o de Pound, que prefere falar em “imutação da personalidade”, no lugar de imortalidade.
A maior parte dos autores brasileiros (por má fé?) esconde que Mackey cita a crença na ressurreição, que fere grande parte dos maçons brasileiros, que crêem na reencarnação e não na ressurreição. Toda afirmativa dogmática colocada como landmark é um perigo para a liberdade de pensamento, fundamento da Ordem.
Vejamos o que diz o texto em inglês do Landmark coligido por Mackey: “is the belief in a resurrection to a future life.” E mais adiante: “To believe in Masonry, and not to believe in aresurrection, would be an absurd anomaly.” Como é que ficam os Maçons não reencarnacionistas?
21.- A existência do “Livro da Lei”, como ornamento indispensável em uma Loja.
Em primeiro lugar, há de se observar que não existia antigamente a exigência de qualquer livro, religioso ou não, como ornamento das Lojas, basta consultar os diversos rituais antigos a inexistência do livro no compromisso dos iniciados. Os autores brasileiros exageram, ainda mais, dizendo que o landmark fala em “livro da lei que deve conter a verdade revelada pelo Grande Arquiteto do Universo”; e algumas Grandes Lojas, ainda, citam especificamente a Bíblia. Ora, onde a liberdade religiosa? Onde a liberdade de pensamento?
Fala Mackey em religião do país, é incrível depois das Constituições de Anderson falar-se que deve ter a religião do país. Ninguém pode ter outra religião senão a religião da maioria??!! Eis o que diz Mackey: “The ‘Book of de Law’ is that volume which, by the religion of the country”.
Falar em Velho Testamento (Old Testament) para os judeus? O livro sagrado do Judaísmo não é todo o Velho Testamento, mas apenas o Pentateuco ou Torá. No Brasil nós temos religiões (não só no Brasil), que não têm livro sagrado, pois toda tradição religiosa é oral (Candomblé, Umbanda, Pajelança, etc.). Quem não entende de outra religião senão a sua, quando entende; quem nunca estudou outras religiões, como pode falar desta ou daquela religião?
Nós mantemos presente um Livro Sagrado em virtude do Tratado que existe com a Grande Loja Unida da Inglaterra. Diz o item 5 dos seus 8 pontos: “All Freemasons under its jurisdiction must take their obligations on or in full view of the Volume of the Sacred Law (i.e. the Bible) or the book held sacred by the man concerned”, portanto o compromisso não é feito obrigatoriamente sobre o Livro da Lei Sagrada, basta que ele esteja presente.
22.- Que todos os homens são iguais perante Deus e que na Loja se encontram no mesmo nível.
Em primeiro lugar, muda-se a redação de Mackey, que diz simplesmente a igualdade de todos os Maçons. Diz ele: “THE EQUALITY OF ALL MASONS is another Landmark of the Order.”
Mas não há dúvida que a igualdade dos Maçons em Loja é um landmark, desde que obedecida à hierarquia e os graus, portanto a igualdade não é tão absoluta. A grande verdade é que o Maçom não goza dos privilégios e prerrogativas que possam gozar no mundo profano.
23.- Que a Maçonaria é uma sociedade secreta de posse de segredos que não podem ser divulgados.
Por que será que nossos Irmãos alteram a redação dos landmarks de Mackey, será que é porque não podem sustentá-los na forma que são, mas pretendem endeusá-los? Na tradução da Grande Loja de Sergipe consta o termo correto.
Ora, a Maçonaria não é uma sociedade secreta, só o sendo nos países onde a liberdade de associação não é permitida. Nem em Cuba comunista.
Ela tem seus estatutos registrados e sede conhecida. Ela é, isto sim, uma sociedade sigilosa, que tem seus segredos, como muitas outras sociedades civis e religiosas. O que existe na Maçonaria é o sigilo que seus membros devem guardar dos conhecimentos havidos pela iniciação
Se segredo existe é aquilo que é tratado dentro de Loja, o, que infelizmente não acontece.
24.- A Maçonaria consiste em uma ciência especulativa fundada numa arte operativa.
Definir a Maçonaria como ciência é absolutamente anticientífico, em nenhum conceito de ciência cabe admitir a Maçonaria como uma delas. A Maçonaria incentiva o estudo da ciência, incentiva a prática das artes, mas não é nenhuma nem outra. A afirmativa não é um landmark, e ainda mais, é uma inverdade.
25.- Os landmarks da Maçonaria são inalteráveis. ”Nolumus legen mutari”
É muita veleidade, no mínimo, afirmar que os landmarks que Mackey relaciona são inalteráveis. Não há dúvida que devem existir princípios fundamentais (e existem), mas relacioná-los, afirmá-los como verdadeiros, porque por si escolhidos, é pretender se tornar um Papa da Ordem.
Alguns Irmãos chegam à infantilidade de faltar com a verdade na defesa desses landmarks, como nosso querido Irmão Rizzardo da Camino, quando afirma: “Coube a Inglaterra reunir esses landmarks e apresentá-los à maçonaria moderna…” e cita os landmarks de Mackey. Ora, a Inglaterra, tanto no tempo, da Grande Loja da Inglaterra e Grande Loja de York, como depois da união, formando em 1813 a Grande Loja Unida da Inglaterra, nunca fixou ou compilou uma relação como verdadeira, como legítima. Ela considera que os Antigos Deveres contidos nas Constituições de Anderson, em sua primeira edição, alterada posteriormente por ela, são a lei fundamental onde constam os princípios vitais da Maçonaria Moderna.
O que Inglaterra fez foi listar “oito pontos”, que exige de outras Obediências para reconhecê-las como Corpo Maçônico regular.
Nos Estados Unidos, onde existem os maiores defensores dos landmarks, é onde existe a maior variedade de relações e compilações, cada Grande Loja lista os seus e os considera como os verdadeiros e inalteráveis.
Os landmarks relacionados por Mackey tiveram como um de seus maiores críticos Albert Pike, que foi Soberano Grande Comendador da Jurisdição Sul do Rito Escocês Antigo e Aceito nos Estados Unidos, do qual Mackey foi Grande Secretário Geral.
No Brasil, chegou a constar da Constituição dos Grandes Orientes. Felizmente, quando estávamos no Grande Oriente de São Paulo, dissidente, atual Grande Oriente Paulista, em 1982, conseguimos excluí-lo. E, no Grande Oriente do Brasil foi escoimado de sua Constituição em sua última reforma, em 1991, onde consta atualmente a exigência dos landmarks, mas sem citar qualquer deles, ficando a cargo da Loja ou do Rito escolher qual deles adotar.
Efetivamente, o problema dos landmarks é insolúvel, porque a maioria pretende tornar a Maçonaria, a seu modo, num grupo dogmático em que só a sua vontade seja válida, pretende infirmar princípios fundamentais na Maçonaria que são a Busca Constante da Verdade, a Liberdade Absoluta de Pensamento, a Liberdade Absoluta de Consciência.

NOTA: O crédito da bibliografia e dos autores que fundamentaram esse trabalho está no corpo da redação, sempre em negrito.


Extraído de: https://bibliot3ca.wordpress.com/landmarks/  -  Acesso em: 311440MAR2016.

sexta-feira, 25 de março de 2016

O RITO DE INICIAÇÃO: UMA ABORDAGEM ANTROPOLÓGICA


Pelo Ven.’. Ir.'. William Almeida de Carvalho 33

O presente trabalho busca estabelecer alguns conceitos antropológicos para se analisar, em seguida, o rito de iniciação maçônico no R.’.E.’.A.’.A.’. como uma busca de apaziguamento da ânsia do sagrado que a humanidade vem procurando nos últimos tempos.
A Função Social do Rito
Um dos componentes fundamentais dos grupos e das sociedades humanas é o processo ritual. Os ritos e as cerimônias permeiam todo o grupamento social, desde as sociedades primitivas até as modernas sociedades pós-industriais. Os antropólogos contemporâneos afirmam que temos um comportamento ritual quando amamos e fuzilamos, quando nascemos e morremos, quando noivamos ou casamos, quando ordenamos e oramos. Os rituais revelam os valores mais profundos do comportamento humano e o estudo dos ritos tornou-se a chave para compreender-se a constituição essencial das sociedades humanas.
Se o processo ritual é tão remoto quanto a própria criação do Homem, o estudo sistemático e científico dos ritos advém com a formação da antropologia no século XIX.
Estudam-se hoje os ritos como um fenômeno social que possui um espaço independente, isto é, como um objeto dotado de uma autonomia relativa em termos de outros domínios do mundo social, e não mais como um dado secundário, uma espécie de apêndice ou agente específico e nobre dos atos classificados como mágicos pelos estudiosos.
Essa autonomia relativa da antropologia foi conseguida a duras penas no processo de formação da própria antropologia. Os antropólogos ingleses, da época vitoriana, evolucionistas e etnocêntricos, estudavam os fenômenos mágicos e ritualísticos das sociedades primitivas como um meio, no fundo, de provar a superioridade biológica e cultural do europeu de então. Para os estudiosos da época, o ritual não surgia como algo socialmente relevante, pois nem mesmo o fato social existia conceitualmente como algo socialmente independente, como viria a ser descoberto pela sociologia de Durkheim posteriormente.
Para os antropólogos vitorianos, por desconhecerem o fato social, reduzia-se o mesmo às suas componentes biológica, psicológica ou geográfica.
Para os reducionistas biológicos, os fenômenos sociais ou antropológicos eram explicados como resultantes de tensões e caracteres raciais. O social submergia no biológico do mesmo modo que o diferente, o outro, desaparecia na sua história natural.
Na outra vertente, a do reducionismo psicológico do século XIX, o social se liquefaz na vontade dos agentes individuais, vontade, depois projetada, por meio de um fiat obscuro para toda a sociedade. Segundo o antropólogo brasileiro Roberto da Matta, na apresentação do livro clássico de Van Gennep, Os Ritos de Passagem, “Tylor é um excelente exemplo desta posição (psicológica). Ele (Tylor) explica a origem da religião como uma especulação na crença da alma, especulação que nasce dos sonhos dos primitivos. Sonhando com tudo e principalmente com os mortos, os homens primitivos descobrem diz Tylor a noção de alma, de imagem, de duplo e assim constroem o domínio do ‘outro mundo’, o domínio do sagrado e do sobrenatural. Descobrem também, segundo o mesmo estudioso, que pode haver uma relação entre os dois domínios e procuram então controlar um pelo outro. Estaria agora fundada a estrutura mais elementar da religião: a crença em espírito e em almas e a condição necessária a esta crença, a divisão entre o mundo dos vivos e o dos mortos. Daí, como sabemos, o nome ‘animismo’ para designar a religiosidade básica e enganada do primitivo. Nesta perspectiva psicológica, que engloba estudiosos de Tylor e Frazer, o interesse é discutir o religioso em suas formas mais primitivas, fazendo um corte evidente entre as religiões com tradição escrita (do Ocidente e, às vezes, das grandes civilizações) e a magia, forma de religiosidade vigente nos grupos tribais, selvagens e primitivos” (pg. 13).
A terceira variante explicativa era a do reducionismo geográfico ou ecológico. Reduzia-se, mais uma vez, o social à dinâmica dos climas, dos solos, das vegetações, do regime de chuvas e ventos. Presume-se que até mesmo o escritor brasileiro Euclides da Cunha, em “Os Sertões”, sofreu este reducionismo geográfico ao explicar o comportamento do sertanejo.
Todos esses três reducionismos biológico, psicológico e geográfico liquidam o social como um fenômeno específico de estudo. Contudo, a tomada do fato social como um fenômeno não explicável nem pela biologia, nem pela psicologia e muito menos pela geografia, nasce da tradição francesa de Comte e, sobretudo pela sociologia de Émile Durkheim. Já não se trata aqui de subdividir o social para estudá-lo, fazendo dele um fenômeno individualizado e redutível a uma de suas partes, mas tomar o estudo da sociedade, partindo de sua totalidade. O social adquire então a sua feição contemporânea: são fatos capazes de coagir e, sobretudo de não serem redutíveis a seus componentes geográficos, psicológicos, etc. Não se negam estes aspectos biológico, psicológico e geográfico do fato social ou cultural, mas não é isso que os faz socialmente significativos. Pela sociologia de Durkheim, somente quando se tornam socialmente significativos é que são levados em consideração.
O modelo a ser apresentado para a análise do ritual de iniciação maçônico não será contudo o de Durkheim, que escreveu sobre a magia e a religião, por ser o seu foco centrado na religião elementar, nas formas mais simples da vida religiosa, como também por apresentar uma polaridade rígida entre o sagrado e o profano.
O modelo escolhido será então o de Van Gennep, no seu famoso “Ritos de Passagem”. Esse autor não toma mais o rito como um apêndice do mundo mágico ou religioso, mas como algo em si mesmo. Como um fenômeno dotado de certos mecanismos recorrentes (no tempo e no espaço) e também de certos conjuntos de significados, o principal deles sendo o de realizar uma espécie de costura entre posições e domínios sociais, pois a sociedade é concebida em Van Gennep como uma totalidade dividida internamente.
Se Durkheim percebe a sociedade composta de um sistema coercitivo de regras, sobretudo as regras penais e religiosas, com uma divisão interna entre o sagrado e o profano, Van Gennep concebe o sistema social como estando departamentalizado, como uma casa, com os rituais sempre ajudando e demarcando os quartos e as salas, os corredores e as varandas, por onde circulam as pessoas e os grupos na sua trajetória social.
Concebendo a sociedade como internamente dividida, Van Gennep introduz um dinamismo no mundo social que nem vitorianos nem durkheimianos foram capazes de reconhecer. Se a divisão clássica entre o sagrado e o profano é vista como cerne e raiz do mundo social, Durkheim trabalha numa perspectiva dualista do mundo, com um jogo do sagrado ao profano, do mecânico ao orgânico, como domínios fixos e mutuamente exclusivos. Em suma, Durkheim é um evolucionista de sequências duais e também um sociólogo dos pontos polares, jamais das margens e da posições mais confusas, quando a totalidade social não se encontra nem no polo do sagrado nem do profano.
Em Van Gennep, o sagrado e o profano são totalmente relativos, pois sempre haverá um lado mais sagrado dentro da própria esfera tomada como sagrada, o mesmo sendo válido para o profano. O sentido não estará equacionado a uma essência do sagrado (ou profano), mas na sua posição relativa dentro de um contexto de relações.
Van Gennep no seu “Ritos de Passagem” estuda diversos ritos, tais como: da porta e da soleira, da hospitalidade, da adoção, da gravidez e parto, do nascimento, da infância, da puberdade, da iniciação (que nos interessará mais de perto), da ordenação, do noivado, do casamento, dos funerais, das estações, etc.
Ele separa antologicamente os ritos em três grandes subdivisões: ritos de separação, ritos de margem e ritos de agregação. Segundo Van Gennep (1978, pg.31) “essas três categorias secundárias não são igualmente desenvolvidas em uma mesma população nem em um mesmo conjunto cerimonial. Os ritos de separação são mais desenvolvidos nas cerimônias dos funerais, os ritos de agregação nas do casamento. Quanto aos ritos de margem, podem constituir uma seção importante, na gravidez, no noivado, na iniciação, ou se reduziriam ao mínimo na adoção, no segundo parto, no novo casamento, na passagem da segunda para a terceira classe de idade etc. Se por conseguinte, o esquema completo dos ritos de passagem admite em teoria ritos preliminares (separação), liminares (margem), e pós liminares (agregação), na prática estamos longe de encontrar a equivalência dos três grupos, quer no que diz respeito à importância deles quer no grau de elaboração que apresentam. Além disso, em certos casos, o esquema se desdobra, o que acontece quando a margem é bastante desenvolvida para constituir uma etapa autônoma. Assim é que o noivado constitui realmente um período de margem entre a adolescência e o casamento. Mas, a passagem da adolescência ao noivado comporta uma série especial de ritos de separação, de margem e de agregação à margem. A passagem do noivado ao casamento supõe uma série de ritos de separação da margem, de margem e de agregação ao casamento. Esta mistura é também verificada no conjunto constituído pelos ritos de gravidez, do parto e do nascimento. Embora procure agrupar todos esses ritos com maior clareza possível, não escondo que, tratando-se de atividades, não se poderia chegar nestas matérias a uma classificação tão rígida quanto a dos botânicos, por exemplo”.
Antes de terminar esta parte teórica convém tecer algumas considerações sobre o sagrado e o profano. Segundo ainda Van Gennep (pg.25) “toda sociedade contem várias sociedades especiais, que são tanto mais autônomas e possuem contornos tanto mais definidos quanto menor o grau de civilização em que se encontra a sociedade geral. Em nossas sociedades modernas só há separação um pouco nítida entre a sociedade leiga e a sociedade religiosa, entre o profano e o sagrado... Entre o mundo profano e o sagrado há incompatibilidade, a tal ponto que a passagem de um ao outro não pode ser feita sem um estágio intermediário... À medida que descemos na série das civilizações, sendo esta palavra tomada no sentido mais amplo, constatamos a maior predominância do mundo sagrado sobre o mundo profano, o qual nas sociedades menos evoluídas que conhecemos, engloba praticamente tudo. Nascer, parir, caçar etc. são então atos que se prendem ao sagrado pela maioria de seus aspectos... Se em nossas sociedades a solidariedade sexual é reduzida ao mínimo teórico, entre os semicivilizados desempenha considerável papel em consequência da separação dos sexos nas questões econômicas, políticas, e sobretudo mágico-religiosas... A vida individual, qualquer que seja o tipo de sociedade, consiste em passar sucessivamente de uma idade a outra e de uma ocupação a outra. Nos lugares em que as idades são separadas, e também as ocupações, esta passagem é acompanhada por atos especiais que, por exemplo, constituem, para os nossos ofícios a aprendizagem, e que entre os semicivilizados consistem em cerimônias, por que entre eles nenhum ato é absolutamente independente do sagrado. Toda alteração na situação de um indivíduo implica ai ações e reações entre o profano e o sagrado, ações e reações que devem ser regulamentadas e vigiadas, afim de a sociedade geral não sofrer nenhum constrangimento ou dano”.
Mircea Eliade (1958, pg.9), por sua vez, afirma que “a originalidade do homem moderno, sua novidade com respeito às sociedades tradicionais, está precisamente na vontade de considerar-se como um ser unicamente histórico, no desejo de viver em um Cosmos radicalmente dessacralizado... Em certo sentido, podemos dizer que, para o homem das sociedades arcaicas, a História está fechada, esgotadas em uns quantos acontecimentos grandiosos do começo. Ao revelar aos polinésios, in illo tempore, as modalidades da pesca em alto mar, o herói mítico esgotou de uma só vez as possíveis formas desta atividade; desde então, cada vez que vão pescar, os polinésios repetem o gesto exemplar do herói mítico: imitam um modelo transhumano”.
O homem moderno perdeu o contato com o sagrado em muitas ações diárias. Frequentemente, viajamos dentro do país e ao exterior como fatos absolutamente corriqueiros. Nas sociedades arcaicas, as viagens eram raras, e antes de viajar realizavam-se cerimônias de purificação (rito de separação) para que o viandante não se poluísse ao entrar em contato com o estrangeiro. Ao chegar ao destino, o viajor poderia ou não ser recepcionado com um banquete (rito de agregação) que significava o seu ingresso em outra dependência do sagrado.
Contudo, por mais profanos que sejamos no mundo moderno, ainda mantemos os rituais, na maioria das vezes de forma inconsciente. Observe-se, por exemplo, as despedidas dos astronautas em Cabo Kennedy, momentos antes de partir em viagem de exploração. A cerimônia de despedida não deixa de ser um rito de separação, o tensionamento da viagem está inserido num rito de margem e quando a viagem é bem sucedida o retorno triunfal se insere num rito de agregação.
Visto esta parte mais conceitual, tenta-se agora aplicar tais conceitos vangennepianos ao rito de iniciação.

Análise do Rito de Iniciação
A ânsia do sagrado no mundo moderno também faz parte do ideário do maçom que busca sair do profano em direção ao sagrado.
Uma vez iniciado, o aprendiz evade-se um pouco de um mundo essencialmente profano e ingressa numa área um pouco mais sagrada, buscando alcançar o grau de companheiro, para finalmente atingir a plenitude maçônica. A senda em busca de apaziguar esta ânsia do sagrado prossegue nos altos graus e por que não dizer só termina com a morte. Todo este período, que vai da iniciação até a morte terrena, pode ser chamado de um rito de margem ou de liminaridade, pois o processo de aprendizagem e maturação só encontrará o seu final, para efeito de análise, na morte terrena. Dentro desse período de margem de longo prazo, assistir-se-á aos mais diversos ritos de passagem de um grau para o outro.
Esta análise somente levará em conta o período de iniciação propriamente dito. A cerimônia de iniciação será, assim, o rito de passagem do mundo profano ao mundo sagrado.
Vejamos a introdução e a preparação do neófito. Denota-se já aqui um rito de separação, pois o mesmo não é separado dos metais, talvez simbolizando o despojamento de suas riquezas do mundo profano? Nem nu nem vestido simbolizando o desnudamento das vestes profanas, como num ritual de separação, pedindo humildemente o ingresso no sagrado.

A venda dos olhos simboliza a morte de um órgão vital estratégico que deverá renascer em um novo estágio de consciência compatível com um recinto mais sacralizado. A Câmara, o testamento, a prova da Terra seriam, mais uma vez, a morte do profano para um renascimento mais consciente em outra esfera do sagrado. Simbolicamente esta descida aos infernos ou pelo menos às profundezas da terra, como nos antigos mistérios greco orientais, seria rito de separação para uma longa viagem.

As outras três provas, já no interior do templo, podem ser vistas como ritos de aprofundamento de passagem, de purificação crescente, agora defronte os altares da Beleza, da Força e da Sabedoria. Podem ser analisadas como ritos de margem neste vestibular espiritual para uma esfera mais sagrada. Neste processo de alquimia mental e espiritual estaria se matando, homeopaticamente, o profano para o renascer, simbolicamente doloroso e ao mesmo tempo glorioso, do aprendiz tateante.
E aqui nos socorremos de Mircea Eliade (1958, pg. 12) quando diz que “a maior parte das provas iniciáticas implicam de maneira mais ou menos transparente, uma morte ritual se seguiria uma ressurreição ou novo nascimento. O momento central de toda iniciação vem representado pela cerimônia que simboliza a morte do neófito e sua volta ao mundo dos vivos. Mas o que volta à vida é um homem novo, assumindo um modo de ser distinto. A morte iniciática significa ao mesmo tempo o fim da infância, da ignorância e da condição profana”.
O batismo de sangue significaria o começo de um ritual de agregação, algo que na Igreja Católica se chama de Comunhão dos Santos, isto é, o iniciante depois de purificado pelas provas começaria a participar, a ser agregado simbolicamente à comunhão de todos os maçons.
O juramento teria algo do rito de margem, pois o iniciante, já agora menos poluído pelo profano e mais ciente do sagrado, teria então os pré-requisitos mínimos para um juramento mais consciente.
O nascimento o fiat lux pode ser analisado como o nascer biológico do novo ser, um rito de agregação ao mundo da Luz e da comunidade dos irmãos, que, em seguida, é batizado pelo ritual de iniciação propriamente dito. Nasce-se e imediatamente se é iniciado, sem perda de tempo, em suma, um rito sumário de agregação, a culminância do processo iniciático.
A passagem dos segredos de reconhecimento pode ser entendida como um reforço do ritual de agregação, um modo e um processo de comunicação rápido e instantâneo para melhor agregar a comunidade dos eleitos. Os aventais seriam, então, a nova vestimenta do sagrado para cobrir a nudez simbólica do ex-profano.
E por último, mas não menos importante, o banquete, que não fazendo parte direta da cerimônia do templo, insere-se num contexto de um ritual de reagregação. Aqui, já se está de volta ao mundo profano, mas como alguém que circulou pela esfera do sagrado e volta ao mundo profano aureolado pela sacralidade. É como uma espiral; deu-se um giro de 360º, mas num outro nível, outro patamar; está-se no mundo profano mas como um ser consagrado.

Conclusão
A sociedade moderna assiste, cada vez mais, ao crescimento da onda avassaladora do profano em relação ao sagrado. Os núcleos de sacralidade são como pequenas ilhas no imenso oceano do profano. Tem razão Mircea Eliade (1958, pg. 9) quando afirma que “uma das características do mundo moderno é o desaparecimento da iniciação. De capital importância nas sociedades tradicionais, a iniciação é praticamente inexistente na sociedade ocidental de nossos dias. É bem verdade que as diferentes confissões cristãs conservam, em diferentes graus, vestígios de um Mistério iniciático. O batismo é essencialmente um rito iniciático; o sacerdócio implica uma iniciação. Não se deve esquecer que o cristianismo triunfou precisamente e chegou a ser uma religião universal senão por ter se liberado dos Mistérios Greco orientais, proclamando ser uma religião de salvação acessível a todos”.
Essa tendência secular de profanização da sociedade tem encontrado, contudo, nos últimos tempos, uma busca, por parte de alguns homens, de uma volta ao sagrado, ou um revolta contra o monopólio do profano, o que talvez tenha contribuído para que L. Kolakowski escrevesse o seu famoso ensaio em 1973: “A Revanche do Sagrado na Cultura Profana”.
Talvez se assista, no limiar do século XXI, a uma revivescência espiritual. As grandes religiões, que sempre foram matrizes de moralidade exotérica, estão em crise neste final do milênio, e estão sofrendo um processo crescente de profanização de sua cultura religiosa. A luta frenética de alguns fundamentalismos, principalmente os de base muçulmana, para barrar o processo de modernização, inevitável no mundo atual, é prova cabal. Na faixa esotérica, considera-se a Maçonaria como uma das mais poderosas alavancas do sagrado no mundo laico, que avidamente necessita dos eternos valores maçônicos.
A resultante da crise deverá ser, não a negação das ciências e das liberdades humanas mais fundamentais, não uma volta ao passado preconceituoso, supersticioso e retrógrado, mas a busca de uma nova moralidade, que incorpore as raízes profundas da Verdadeira Tradição, compatibilizando-a com a Liberdade e a Ciência.
E, neste momento, cremos profundamente que a maçonaria terá um papel de escola a desempenhar.

Bibliografia
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Extrraido de: http://blogomalhete.blogspot.com.br/2016/02/o-rito-de-iniciacao-uma-abordagem.html  -  Acesso em: 252042MAR16