Texto elaborado por: Irmão Marcos
Antônio Xavier Filho
Obreiro da Loja Maçônica
Cavaleiros do Hermon 335
Data da elaboração 22OUT2018.
Desde
o inicio, entendemos o tempo como um conceito adquirido por eventos.
Experiências estas que ocorrem ordenadas de forma cronológica e resultando em
diferentes destinos. Visto como processo linear pelo cristianismo, a idealização
do tempo tem sido muito discutida desde os primeiros registros da cultura
ocidental. Os cristãos organizam-se de acordo com acontecimentos singulares,
como por exemplo, o marco do cristianismo: o nascimento, crucificação e
ressurreição de Cristo. Estes são acontecimentos únicos. Também o apocalipse simbolizando
o fim do mundo e encerramento de um ciclo que não mais irá se repetir. Já a
filosofia oriental, suporta que o tempo, assim como o espaço, são invenções de nossa
mente. Acreditam na rotatividade temporal. Essas teorias eram iminentes, uma
vez que os homens sempre buscaram conhecimento a respeito da vida e da
natureza, como os movimentos da terra, estações do ano, plano orbital do nosso
planeta em interseção com a esfera celeste, sucessão de dias e noites,
alterações climáticas, funções de cada grupo alimentar, fitoterapia e assim por
diante. Esses fatos naturais sobre a rotatividade do tempo conduziram as
civilizações antigas, e seus pensadores a imaginarem que o tempo também seria
circular, ou seja, a evolução da natureza seria baseada na repetição. Para os
egípcios, por exemplo, os dias eram representados pelos barcos sagrados do deus
do Sol Rá, conhecidos também como barcas solares, chamadas de Mandjet e
Mesektet. O Mandjet era o barco que Rá utilizava para atravessar o céu, e o
Mesektet era o barco que o levava ao submundo. O deus Sol era entendido em
quatro fases: a primeira ao nascer do sol, recebendo o nome de Khepri (ou
Kopri); a segunda ao meio-dia, sendo contemplado como um pássaro ou com o
próprio barco a navegar; a terceira ao pôr-do-sol, visto como um homem velho
que descia à terra dos mortos; na quarta fase, durante a noite, era visto como
um barco que navegava ao leste preparando-se para o dia seguinte, onde tinha de
lutar ou fugir de Apep (de acordo com alguns teóricos, denominado também como
Apópis), a grande serpente do caos que tentava devorá-lo.
A ideia de um tempo progressivo, sempre novo,
e a ideia de que o tempo é cíclico marcado pela transformação é discutida não
somente na filosofia. Este é um assunto também recorrente a literatura.
Considerando
então que tanto a literatura quanto a filosofia tem o papel de questionar tudo
que vivenciamos como um padrão, então qual é a perspectiva da literatura a
respeito do tempo?
Heráclito
de Éfeso faz a seguinte citação a respeito do tempo: “O tempo é uma criança que
brinca, movendo as pedras para lá e para cá; governo de criança”. Para Heráclito
o tempo não segue a uma sequencia de acontecimentos, é totalmente casual como o
jogar de dados por uma criança. E analisando a questão das mudanças que o tempo
nos proporciona, há um outra frase de Heráclito que diz: “ninguém se banha duas
vezes no mesmo rio”. A analogia feita por Heráclito utiliza o rio, porque em
alguns momentos se olharmos de longe parece estar estagnado, mas quando nos
aproximamos somos testemunhas do deslocamento incessante das águas.
Na
maçonaria sabemos que não só ele muda. Nós também mudamos. Na segunda vez que
entramos tanto nós quanto o rio somos um outro, buscamos conhecimento e
aperfeiçoamento, buscamos sempre aparar as arestas de nossa pedra bruta.
Borges
em A Arte Poética diz:
“Fitar
o rio feito de tempo e água
e recordar que o tempo é outro rio,
saber que nos perdemos como o rio
E que os rostos passam como a água.”
e recordar que o tempo é outro rio,
saber que nos perdemos como o rio
E que os rostos passam como a água.”
“Rio feito de tempo e agua”. Nessa afirmação rio não é constituído somente por água; na fluidez da água também existe fluidez do tempo, diferenciada apenas na frequência vibracional de suas partículas se olharmos mais de perto– Então um tempo não é apenas uma sequencia de eventos ou momentos, mas um marco dos momentos que se passam. O tempo é outro rio, e flui por si, sem ser sustentado nem fundado: atua por si só. Atua e deixa marcas em toda a humanidade. “E que os rostos passam como a agua.”.
Voltando
ao pensamento de Heráclito, a base dentro da doutrina do eterno retorno e isso
porque na perspectiva de Nietzsche tudo é um eterno fluir e um passar
incessante de todas as coisas numa eterna circularidade. Não há início, meio ou
fim, mas as eternas mudanças. Para ele assim como para o niilismo o mundo não
tende a um fim, não tende a um propósito.
Através
de outra abordagem diferente da filosofia, mas acrescentando seu sentido a
concepção de tempo pela literatura, também pode ser vista como forma de
contestação ao padrão ocidental de estudos filosóficos a cerca dos fins,
propósitos, objetivos e finalidades. Apesar de ser impossível afirmar o que é o
tempo definitivamente, a literatura representa nossa experiência do tempo grafado
na história em todo seu dinamismo. Torna conceitos filosóficos mais acessíveis
e palpáveis. Enquanto a filosofia teoriza sobre, a literatura tem a liberdade
de utilizar seus conceitos e teorias nas construções de historias poéticas e
singulares sobre o tema como Guimaraes Rosa em Grande Sertão Veredas ou
contestar através da própria estrutura narrativa. Em Borges por exemplo não há
inicio, meio ou fim. A estrutura narrativa de Borges apresenta uma ideia de
forma não ortodoxa e fragmentada. Vai de encontro ao encadeamento de ideias que
vão se desenvolvendo e combinando em um modelo tradicional.
Em
Grandes Sertões Veredas, de forma criativa e poética, Guimaraes Rosa trabalha
com esse questionamento sobre o tempo e mudanças propostas por Heráclito. Não
só as mudanças em si, mas seus efeitos nos homens. Grande Sertão de Guimarães
Rosa representa a filosofia e seus conceitos.
“O mais importante e bonito do mundo é isso
Que as pessoas não são sempre iguais
Ainda não foram terminadas
Mas que elas vão sempre mudando
Afinam ou desafinam
Verdades maiores é o que a vida me ensinou.”
Pelos
fragmentos deixados por Heráclito e nessa obra de Guimarães Rosa, percebe-se
que filosofia e literatura complementam-se e se enriquecem. Estão entranhadas
no papel de questionar, indagar o que é dito como padrão, papel esse que também
tem o maçom.
O
conceito do tempo pode ser multidimensional, cheio de significados, tão amplo
que a realidade difere a cada ponto de vista, mas nenhum destes conceitos de
tempo invalidam o nosso tempo cronológico em si, mas sim o abarcam e
transcendem. Fazendo sempre lembrarmos que precisamos dividir nosso tempo com
sabedoria, buscando o momento certo para semear e colher, para trabalhar e
descansar, assim como também o momento certo de agir assim com se abster.
Devemos utilizar todas as ferramentas que estejam, ou, que temos
disponíveis ao nosso alcance, se assim necessário para nossa evolução e não
podemos esquecer a duração do tempo é um estado que nenhum obstáculo poderá
esgotar os movimentos. Não é uma mera condição de repouso, pois uma pequena
imobilidade significa também um retrocesso, uma vez que as águas do rio não
esperarão por você. O tempo é o movimento de uma totalidade organizado por
nossas ações e completo em si mesmo. Esses movimentos cíclicos ou contínuos se
realizam segundo a lei que dita que a cada término dá-se lugar a um novo
começo. O objetivo é sempre atingido por uma direção interna: a inspiração, a
sístole, a contração, o V.I.T.R.I.O.L.. Esse movimento se transforma num novo
começo tomando a direção externa: a expiração, a diástole, a expansão e por fim
as nossas ações.
BIBLIOGRAFIA
https://focoartereal.blogspot.com/2017/08/o-que-e-o-tempo-para-o-macom.html