ANCORA
Símbolo
de uma Virtude Teologal
“Que toquem os sinos em nome da esperança
Eterna criança que vive, brincando, no peito
Dos homens que sabem da força que tem o respeito
Para com os seus semelhantes,
Na luta por seus direitos
Que traga a alegria o toque feliz deste sino
E faça dançar nas ruas meu povo menino”.
Eterna criança que vive, brincando, no peito
Dos homens que sabem da força que tem o respeito
Para com os seus semelhantes,
Na luta por seus direitos
Que traga a alegria o toque feliz deste sino
E faça dançar nas ruas meu povo menino”.
Gonzaguinha
INTRODUÇÃO
Os símbolos que decoram uma Loja,
independente do Rito ali praticado, conduz o construtor social através do
esforço e dedicação à Beleza e à Perfeição. Esse construtor social, o maçom,
representa em um primeiro momento o homem rude, pedra a ser desbastada, saído
das cavernas escuras, que anseia habitar ambientes iluminados, simétricos e
harmônicos. No entanto verifica o quão difícil é viver sem o preparo adequado para
enfrentar os infortúnios da vida, longe da escuridão chamada ignorância.
Descobrir, conhecer, explorar, viajar em
busca do conhecimento, é dúvidas ações satisfatórias, porém devemos ter em
mente que o conhecimento deve ser muito bem formado. A ideia de o conhecimento
ser algo perigoso não é algo recente. Vejamos o relatado em Gênesis, Adão foi
expulso do paraíso após comer do fruto da árvore do conhecimento.
O Painel do Aprendiz trata da
representação ideal de uma Loja Maçônica, com todos os símbolos reveladores dos
ensinamentos necessários para o Grau de Aprendiz Maçom, é a grande codificação
do conhecimento almejado. Identificar, traduzir, tais elementos é se preparar,
com os cuidados necessários, para gradativamente adquirir conhecimento e assim
enfrentar as dificuldades na vida maçônica e profana. Cada símbolo apresentado
no Painel possui, sem dúvidas, profunda significação, muito mais eloquente do
que meras palavras, muito mais ancestral do que qualquer filosofia.
Segundo
Albert Galetin Mackey “Entre as várias
maneiras de se instruir leigos, o estudioso da Maçonaria tem predileção por
duas delas: as lendas e os símbolos. Quase absolutamente, tudo o que se sabe e
o que se pode saber sobre o sistema filosófico ensinado na instituição se deve
a isso. Todos os mistérios e dogmas que constituem sua filosofia são
transmitidos ao neófito através de um ou outro método de instrução, às vezes,
por uma combinação de ambos. Da Maçonaria – ou dos conhecimentos esotéricos da
Ordem – só é possível o entendimento por meio de uma lenda ou símbolo”[1].
Logo,
se temos predileção por lendas e símbolos, como diz o codificador dos LandMarks e estamos buscando
conhecimento para lapidarmos nossa pedra bruta e nos fazermos verdadeiros
Construtores Sociais, dediquemos o presente trabalho ao estudo de um dos
símbolos existentes no Painel do Grau de Aprendiz Maçom, A Âncora.
O ESTUDO
Antes de
iniciarmos qualquer estudo acerca da simbologia, temos de buscar entendimento
do momento histórico no qual foi inserido o símbolo, ou ao menos ter em mente
tal período. Ainda segundo Mackey existem questões obrigatórias
a um investigador da verdade, as quais este deverá propor, bem no início da
inquirição e que devem ser claramente respondidas antes mesmo que se compreenda
o verdadeiro caráter da Maçonaria como instituição simbólica. É necessário
saber um pouco a respeito de seus antecedentes antes de se poder apreciá-la.
Para chegarmos então ao objeto de
estudo, A Âncora, precisamos entender outros conjuntos simbólicos, em especial
o Painel de aprendiz utilizado em nossas Lojas (GLESP – REAA), onde se vê as
três colunas e a Escada de Jacó, nesta insere-se nos degraus outros símbolos,
dos quais está a âncora. O painel, segundo estudiosos, tem sua origem na Grande
Loja Unida da Inglaterra e foi pintado por John Harris em 1825.
Sabemos então, que a origem é Inglesa e
data de 1825; desta feita precisamos entender agora o que ocorria na Inglaterra
na citada data e claro quem foi John Harris e suas influências.
Tirando os escritos maçônicos, nos quais
constam assuntos acerca do Painel do Grau, não encontraremos facilmente notas
biográficas de John Harris, ao menos esse do Painel.
Mas o mundo em 1825 passava por
transformações e a Inglaterra era sem dúvidas o centro do mundo. Instalava-se a
primeira ferrovia Inglesa; Sir Humphry Davy presidia a Royal Society; no
Brasil, Portugal reconhecia após 3 anos a independência da colônia; Uruguai
declarava sua Independência do Império do Brasil, independências lideradas por
maçons.
Vemos então um fervilhar político e
social no velho e no novo mundo, sempre encabeçados por irmãos influentes, os
quais nem sempre estavam do mesmo lado. No entanto todos lutavam por um mesmo
ideal, tornar feliz humanidade, claro, cada um dentro de seu ponto de vista.
Assim sendo, é natural que para
simbolizar as ações e assim materializar tais ideais, inserindo-os não somente
na mente dos mais experimentados maçons, mas principalmente nos neófitos, pois
seriam moldados e mudariam a ordem em busca da unidade.
Com certeza Harris, inserido no cenário
social, sabia que precisava trazer elementos que garantissem a unidade maçônica
e ainda representassem os ensinamentos, mas que também trouxesse conforto aos
que buscavam pelo conhecimento e lutavam por nobres ideais.
Daí entendo a razão de se inserir na
escada de Jacó os símbolos das virtudes teologais: Fé, Esperança e Caridade
(Amor).
A ANCORA
A âncora, símbolo da firmeza, da força,
da tranquilidade, da esperança e fidelidade. Destarte, é a representação da
estabilidade humana, ou seja, é capaz de manter-nos estáveis frente aos
arreveses da vida, assim como real função não simbólica mantém a estabilidade
das embarcações.
Possui também uma simbologia negativa, a
âncora pode ser tida como a representação do atraso, ser o entrave, na medida
em que se fixa em determinado lugar, não permitindo o próximo passo da evolução
da consciência. Em sua simbologia mais clássica, a âncora é o último refúgio do
marinheiro, ou seja, a esperança frente à tormenta que açoita as embarcações.
Simboliza, nesse ínterim, o conflito entre a terra e a água, que deve ser porto
a termo e desta forma, a terra e a água juntas fecundem em harmonia.
Aqui vale algumas reflexões, externadas
durante discussões sobre o tema, feitas por irmãos. Ao falarmos sobre o aspecto negativo da simbologia deparamos com a
questão dos grãos de areia que nos incomoda, sujam o local que foi limpo,
porém, com o vento os grãos são levados para longe, assim como os problemas,
basta apenas deixar o tempo resolver e este agirá como o vento limpando, levando
para longe a areia. A areia seria a ancora que nos deixa estagnados, o vento
seria o ato de recolher a ancora e permitir que a embarcação navegue[2];
ou seja simples atitudes como o passar do tempo podem nos devolver a paz.
Do mesmo modo, a embarcação que aportou em um local de mar com águas turvas, mesmo
assim o comandante manda que se lançe a ancora,de certo muitos mormuram, “não
deveríamos ter lançado ancora neste porto de águas sujas, porém o sábio
comandante conhece o momento de parar de navegar, sabe controlar a ansiedade e
assim, esperar as águas turvas serem levadas pelas ondas e pela correnteza;
aportado o sábio tem a convicção que não irá navergar com as águas sujas, que é
uma situação temporária, não deve se desesperar, pois no exato momento levantará
sua ancora e poderá navegar em águas límpidas[3].
Tais pensamentos revelam que nem sempre
a estagnação é prejudicial, esta se conscientemente empregada poderá ser uma
excelente ferramenta de gestão.
Voltando aos significados do símbolo em
estudo.
Há outra representação que separa a
âncora em duas partes: um semicírculo e uma cruz, este símbolo, recebe o nome
de Cruz de Escora. O semicírculo trata-se da representação do mundo espiritual,
enquanto a cruz (eixo central da âncora) é a representatividade do mundo
material. Tal simbologia, âncora estilizada, conhecida como Cruz de Escora,
serviu na antiguidade para ocultar o verdadeiro símbolo a Cruz dos Cristãos,
protegendo da perseguição romana. Encontrar a Ancora era saber que ali poderiam
ter um local seguro e assim a esperança em professarem tranquilamente suas
crenças.
A ESPERANÇA
A Esperança é a virtude que nos ajuda a
desejar e a esperar tempos de bonança em nossas vidas. Frequentemente, passamos
por momentos difíceis não existir soluções para os infortúnios. A violência
cotidiana é jogada massiçamente em nossos olhos pelos meios de comunicação,
banalizando a vida e os bons hábitos.
É
preciso mais do que nunca refletir sobre tudo o que está acontecendo,
identificar a falha e buscar uma solução. Sozinhos, não somos nada, mas, unidos
como verdadeiros Irmãos e sob a égide do Grande Arquiteto do Universo, tudo
podemos. A esperança nos conduz identificar os óbices e vencer.
CONCLUSÃO
“…para que nós, que nos refugiamos no acesso à
esperança proposta, sejamos grandemente encorajados por meio de duas afirmações
imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta. Essa esperança é para nós
como âncora da alma, firme e segura, a qual tem pleno acesso ao santuário
interior, por trás do véu, ...”
(Hebreus 6:18-19)
A Esperança, cantada por Gonzaguinha,
nos ensina a autopreservação diante as dificuldades, a nos mantermos estáveis,
como a Âncora que a simboliza no meio da Escada de Jacó. Neste ínterim, o Maçom
que se faz constante em seus propósitos, sempre empenhado nas causas justas,
irá superar as dificuldades, alcançando êxito completo.
Portanto concluímos ser verdadeira a
resposta à pergunta O QUE SIGNIFICA A ÂNCORA? A
âncora se traduz na esperança sugerida aos maçons, revelando a estes à
segurança com que se alcançará os verdadeiros objetivos traçados na prancheta
da vida.
BIBLIOGRAFIA
·
Ritual do Aprendiz Maçom GLESP-2006
·
Bíblia Sagrada –
Almeida Revisada e Atualizada.
·
MACKEY, Albert G. O
SIMBOLISMO DA MAÇONARIA / Albert G. Mackey. – São Paulo : Universo dos Livros,
2008. Tradução: Caroline Furukawa.
Ir\ EUCLIDES CACHIOLI DE LIMA
Or\De São Paulo, 01 de dezembro de
2017 ( E\V\)
[1] MACKEY, Albert G. O Simbolismo da Maçonaria / Albert G. Mackey. –
São Paulo : Universo dos Livros, 2008. Tradução: Caroline Furukawa.
[2] SILVA, Nivaldo Ferreira.
Mestre Maçom da ARLS Cavaleiros do Hermon 335 – 1º Vigilante –
2017/2018.
[3] SILVA, Marcelo. Mestre Instalado da ARLS Cavaleiros do
Hermon 335 – Venerável Mestre – 2017/2018.