POR QUE NÃO TENHO VONTADE DE IR À LOJA
Por: Ir\ EUCLIDES CACHIOLI DE LIMA
M\I\ - ARLS Cavaleiros do Hermon 335
Del\7º Dist\– 7ª Região
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O peregrino em busca do conhecimento dispensa a
viagem geográfica, aquela que se realiza no espaço físico deste pequeno planeta
no qual habitamos.
A sua viagem é maior, e ela tem início no mais
recôndito e obscuro grotão de nossa mente.
E prossegue pelos caminhos insondáveis da alma,
alcança as grandes rotas do espírito e se finaliza no templo do coração.
A venda colocada em vossos olhos, vos fez refletir
sobre as trevas, sobre quão profunda é a escuridão do espírito.
E a luz que vos foi dada, mostrou-vos o
deslumbramento da nossa filosofia Maçônica.
Conhecedores agora do abismo existente entre a luz e
as trevas, sobre isso agora deveis meditar.
O ensinamento aqui é simbólico, mas a conclusão deve
ser prática.
Venerável Mestre Dr. José Jander Fernandes Costa –
Discurso de Iniciação.
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Há algum
tempo se é questionado nas reuniões semanais de muitas Lojas o motivo da
ausência, da baixa frequência dos irmãos do quadro, rapidamente inúmeras
respostas aparecem quase todas convergindo para a questão da monotonia das
sessões, no entanto lembro-me que escrevi uma peça de arquitetura intitulada “A Falta de Compreensão e a Mácula ao Ideal
de Fraternidade”[1],
na qual encerro lançando no último parágrafo o seguinte, antes de questionarmos a Ordem e seus puros métodos de ensinamento,
devemos aprender a nos respeitarmos, ensinarmos aos aprendizes mais valores e
moral maçônica, ao invés de tentarmos passar teorias que sabemos de ouvirmos
falar, contaminando assim a pureza de nossas instruções. Para que no futuro não
digamos que não valeu a pena e que nada tem a se aprender. Eis que surgem
novos questionamentos, como por exemplo, como poderá um mestre ensinar um
Aprendiz ou Companheiro se ele mesmo não sabe a razão de fazer o que faz? Se ele
mesmo não adquiriu o mínimo de conhecimento sobre a doutrina Maçônica, não por
sua culpa e sim devido a um sistema falho decorrente do momento imediatista que
se encontra a sociedade como um todo, não conseguindo, portanto multiplicar de
madeira adequada os ensinamentos outrora recebidos. Diante de tal dilema
inicia-se a reflexão de como agir e assim reverter ou amenizar situações que
possam trazer prejuízo para as atividades da ordem.
Estudando a
obra PORQUE FAZEMOS O QUE FAZEMOS[2],
aflições vitais sobre trabalho, carreira e realizações, de Mário Sérgio
Cortella, voltado para a vida profissional, vislumbrei uma possível aplicação
prática para entender, ou fomentar a discussão sobre a necessidade de
incentivar maçons a serem mais atuantes nas atividades em Loja, sem no entanto
permitir a ação de um daninho espirito inovador, perigoso aos pilares da pura
maçonaria.
A tônica, porque fazemos o que fazemos, transmuta
para, por que não tenho vontade de ir à
Loja, e assim tentar fomentar a discussão filosófica sobre uma questão que
pode afligir algumas oficinas.
Por que não tenho vontade de ir à Loja
a)
Sinal
evidente de cansaço: decorrente das atividades exercidas no mundo profano,
inúmeros compromissos e atividades que ao final do dia resultam na fadiga do
indivíduo;
b)
Não
enxergar mais a razão de estar em Loja; evidente sinal de estresse, decorrente
do excesso de compromissos e do imediatismo cobrador de resultados, o que por
si só fere os princípios dos ensinamentos maçônicos em especial o da
Tolerância.
É necessário
ainda evitar levar uma vida banal, onde o agir se dá de modo automático,
robotizado. Temos de ter a consciência do motivo de estarmos ali, entender a
filosofia por trás da Ritualística.
Como disse
o Barão de Itararé[3]:
A única coisa que você leva da vida é a
vida que você leva”. Neste sentido, deve o agente questionar sobre qual o
propósito ele deve colocar diante de si mesmo, pois infelizmente muitos
iniciados desejam encontrar na instituição algo que ultrapasse o conhecimento
filosófico e moldador (aperfeiçoamento) do caráter.
É na
verdade a ação alienada do iniciado, dentro de um conceito estipulado por
Hegel, em uma interpretação de Cortella, tudo
aquilo que eu produzo, mas não compreendo a razão[4],
um bom exemplo, o maçom, independente de seu grau, receba as devidas
instruções, elabore seus trabalhos entretanto o faz de modo automatizado, sem
entender o porquê faz; isto é, os trabalhos e instruções, são ferramentas de um
sistema que faz a atividade em Loja acontecer, sendo incapaz no entanto de decidir
o destino da própria ação.
Esse
trabalho constante, repetitivo, autômato[5],
sem o entendimento filosófico do sistema empregado, ainda citando Hegel,
alienado, acarretará em desconforto no iniciado, que por vezes não possui o
suporte de seus mestres, ocasionando em consequências funestas para a Ordem
como um todo.
Uma boa
ferramenta, dentro de um conceito simbólico, para o trabalho é o sextante[6],
que nos permite fracionar e assim medir, ou gradar nossas ações, adquirindo um
conhecimento mais lento, porém mais profundo daquilo que fazemos. Ou seja, como
nos ensina Cortella reconhecimento é uma
questão-chave nessa buscapor sentido. Eu preciso reconhecer nas atividades que
exerço, usando um termo de Hegel, isto é, devo objetivas a minha subjetividade.
Devo fazer uso da Régua de 24 polegadas, para medir meu tempo e assim, sendo
minha vida subjetiva um grande mapa para
uma viajem, portanto não afastando-me um pouco da figura do construtor,
utilizarei do sextante, fracionando esse mapa e assim esmiuçar cada trecho
dessa viajem chamada de lapidação da pedra bruta, de modo a melhor aproveitar
minha capacidade e assim não ser só mais um autômato.
O trabalho
repetitivo em nossos rituais não nos torna ou nos obriga a sermos autômatos, ao
contrário, força-nos à busca pelo entendimento e aplicação do absorvido em
nossas práticas diárias. O filme de Charles Chaplin TEMPOS MODERNOS, ensina
exatamente esse aspecto; Chaplin está em uma linha de produção e acaba por ser
enveredar por entre as engrenagens da máquina. Ocorre que, ele não é esmagado
pelas engrenagens, ao contrário, se contorce e passa livremente concluindo seu
ofício; a máquina aqui é o trabalho, em qualquer área; as engrenagens são a
rotina que sempre estão ali, ajudam a desenvolver o produto; sobre outro prisma,
isso bem diverso do exposto na visão de Cortella, comparo a máquina com a
Maçonaria Universal, as engrenagens são os diversos Ritos e Graus, Chaplin é o
Aprendiz, Companheiro ou Mestre, que se instrui, suas ferramentas são os
instrumentos de trabalho e pesquisa. Ele não é um autômato, pois passa, se
envereda pela Máquina, a Maçonaria Universal, desliza entre suas engrenagens,
seus diversos Ritos, porém não se deixa esmagar, como um homem livre e de bons
costumes percorre e conclui sua missão, o trabalho sai a contento.
Ainda na
análise da obra de Charlie Chaplin, mesmo em um momento crítico, quando a
esteira da linha de produção para, ele continua a produzir, nesse momento mais
similar a um autômato, porém como dito, não se deixa vencer pelo sistema, se
esforça, contorce-se entre as engrenagens para superar os revezes e concluir a
obra. Claro que tal alegoria pode e deve ser vista sob óticas diversas.
Porque devemos manter a tradição
É
incontestável que a modernidade, o avanço tecnológico, é algo sem volta e como
não poderia deixar de ser, atinge a nós maçons. Mas até que ponto as inovações
tecnológicas irão afetar a vida em Loja sem estar desrespeitando ao 2º
LandMark? Não sabemos, no entanto devemos ter a consciência de que a pureza da
transmissão do conhecimento não pode ser manchada pelo daninho espírito
inovador.
Muitos
ainda, talvez por não terem compreendido a essência, tecem comentários
infelizes sobre a prática ritualística, em especial no R.˙.E.˙.A.˙.A.˙., alegando ser demasiadamente repetitivo, enfadonho, confundindo com
monotonia. Então, devem os mais experimentados intervirem, pois rotina é
diferente de monotonia.
Segundo
Cortella, a rotina é libertadora, pois
permite organizar uma atividade, e assim utilizar de modo inteligente o tempo.
Mas uma vez, é fazer o uso da alegoria trazida na Régua de 24 Polegadas, ou
quando da utilização da palavra, aproveitar para treinar a síntese,
expressarmos as opiniões no tempo regulamentar de nossos rituais, sendo claro,
preciso e conciso. Tal prática nos ajudará sem dúvidas na resolução rápida dos
conflitos diários, nas tomadas de decisões; compreender e praticar isso fará do
homem maçom se tornar o que deve ser, um destaque positivo na sociedade que integra,
pela objetividade e capacidade de se ver como um solucionador de problemas em
sua vida profana, sem dúvida entender essa dinâmica fará valer a máxima tempo
é dinheiro. Imaginem, em uma reunião de negócios, você poder demonstrar em
curto espaço de tempo seu produto ao
cliente e este diante da clareza e objetividade se convencer e fechar o
negócio.
E assim, a
pedra bruta e disforme, irá, sob o golpe do maço e do cinzel, ganhar formas
esplendorosas.
Para os
irmãos que integram a carreira das armas, é o exato instante, as frações de segundos, onde decide sobre
atirar ou não em um agressor. De modo a avaliar se sua ação acarretará, ou não,
em consequências nefastas à sociedade e a ele mesmo.
Conclui-se,
portanto, que a rotina não é monotonia, aos ser laçado pela monotonia você será
desviado de seu foco. Desse modo entende-se que a monotonia é o principal
adversário da motivação.
Do Reconhecimento
Para
falarmos sobre o reconhecimento devemos continuar estudando a motivação, ou
melhor, seu inverso, a desmotivação.
Entenda por
desmotivação a perda de um potencial para realizar algo, por acreditar ser
indiferente fazer ou não fazer algo. A pessoa ao se encontrar nesse estágio
necessita de uma injeção motivadora, principalmente se essa pessoa sempre foi
proativa, colaboradora, cumpridora de seus deveres, necessita de urgente
reconhecimento pelos bons serviços prestados.
Afinal, é
de extrema satisfação receber reconhecimento, seja ele qual for, pois a
distinção, ainda que singela, materializa a gratidão do grupo social a qual se
insere o homenageado em relação àqueles que o aplaudem.
Organizações
que valorizam seu material humano usam de maneira habitual atos de
reconhecimento público. Nesta seara as instituições militares se sobressaem,
basta observarmos as diversas solenidades de outorga de condecorações. Mas
atento que, a falta de reconhecimento é um mal, porém seu excesso poderá também
agir de modo a corromper aquele que recebe as salvas.
Conclusão
O Universo
Maçônico é recheado de meandros, seja pela vasta simbologia, seja pela
variedade de Ritos existentes. No entanto, o objetivo da Maçonaria Universal é
uno trabalhar o homem, torna-lo útil à
sociedade a qual se insere, sem necessariamente aparecer, sendo seu maior
reconhecimento a certeza de que durante a sua existência buscou fazer feliz a
humanidade. Um ideal aparentemente utópico, mas para o homem maçom é um
objetivo, pois o homem maçom deve amar o desafio.
Atinente ao
lapidar da pedra bruta, os mestres devem reconhecer de modo a incentivar, não
deve o mestre se melindrar em dar bons conceitos, mas quando fazer, questionar
aos aprendizes, ou companheiros, se estes são capazes de serem ainda melhores.
Não permitindo que caiam na zona de conforto, ao contrário devem sempre
instigar os obreiros mais novos, principalmente os neófitos, para que essses
façam o melhor a cada vez que forem submetidos a uma prova.
Estudo,
dedicação, motivação e reconhecimento, máximas guiadoras da vida em Loja, mantenedoras
da chama da Pura Maçonaria, assim responderemos para os que não sabem o que
fazemos, o real motivo deles não terem
vontade de estar em Loja, ou seja, o motivo de não terem compreendido a
essência maçônica. Apenas adentraram na Maçonaria, sem permitir que a Maçonaria
entrasse no coração e na mente de cada um.
BIBLIOGRAFIA
·
Ritual do Aprendiz Maçom GLESP-2006
·
CORTELLA, Mário Sérgio. PORQUE FAZEMOS O QUE FAZEMOS?
Aflições vitais sobre trabalho, carreira e realização. Editora Planeta do
Brasil Ltda. . 19ª Edição. São Paulo, 2017.
·
CACHIOLI, Euclides. Revista A VERDADE nº 519,
Março/Abril de 2017 – Vide ainda Errata constante no Índice, fl. 01, Revista A
VERDADE nº 520, Maio/Junho de 2017, sobre correção de autoria
Or\De São Paulo, 25 de março de 2017
( E\V\)
[1] Revista A
VERDADE nº 519, Março/Abril de 2017 – Vide ainda Errata constante no Índice,
fl. 01, Revista A VERDADE nº 520, Maio/Junho de 2017, sobre correção de
autoria.
[2] CORTELLA,
Mário Sérgio. PORQUE FAZEMOS O QUE FAZEMOS? Aflições vitais sobre trabalho,
carreira e realização. 19ª Edição, Editora Planeta do Brasil Ltda. São Paulo,
2017.
[3] Apparício Fernando de Brinkerhoff
Torelly - também conhecido
por Apporelly e pelo falso título de nobreza de Barão de Itararé (Rio
Grande, 29
de janeiro de 1895 — Rio
de Janeiro, 27
de novembro de 1971), foi um jornalista, escritor e pioneiro no humorismo político brasileiro. Opositor de Vargas e membro do ainda Clandestino
Partido Comunista Brasileiro.
[4] CORTELLA, Mário
Sérgio. PORQUE FAZEMOS O QUE FAZEMOS? Aflições vitais sobre trabalho, carreira
e realização. Pg. 13 - 19ª Edição, Editora Planeta do Brasil Ltda. São Paulo,
2017.
[5]AUTÔMATO:Pessoa inconsciente, cujos .atos obedecem à vontade alheia ou não são precedidos de reflexão. Em: Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt [consultado em 25-03-2017].
[6] SEXTANTE: instrumento óptico de reflexão, cujo
limbo graduado ocupa a sexta parte do círculo (60 graus) e que permite medir, a
bordo de um navio ou de uma aeronave, a altura dos astros e suas distâncias
angulares, não obstante a instabilidade do observador.