Por: Clodomir Monteiro da Silva
1. A estância do João Batista É um primor de belezura Lá existe tanta fartura Que tudo nela é um colosso. Em qualquer campo que escolhas Só tem trevos de três folhas Combatendo o capim grosso. 2. Na entrada tem dois palanques Gravados com iniciais De letras tradicionais. Tem a B pela direita E outra pela canhota Onde está gravado um Jota Em simetria perfeita. 3. No fundo do avarandado Quando o trabalho começa O patrão muito estimado Tem um martelo na mão. Batendo com muita fé A turma se põe de pé Prontita para o serão. 4. Depois de ter relatado O que antes fora feito O patrão Justo e Perfeito Dá ordens ao capataz. Mas este que tem um sota Repete a mesma lorota Sabendo porque o faz. 5. Mais adiante, um piazote Desses piás de recado Pega um saquinho bordado Prá recolher algum cobre Que é sempre um bom ajutório Numa doença ou velório Em rancho de peão pobre. 6. Lá pelas tantas da noite Quando a chusma se expande O dono da casa grande Faz a sua preleção. Mostrando o bem com clareza Vai dizendo com franqueza Muitas verdades ao Irmão. | 7. Se nas rodadas da vida Perderes a montaria Procures bater um dia Na casa desta fazenda. Terás aqui bom cavalo Cama e mesa que é um regalo E amigos que te prenda. 8. Os homens são todos iguais Perante o grande patrão. Nunca tenhas a ilusão De ser o mais virtuoso Pois o couro de um animal Se escolhe pelo carnal Onde os gusanos têm pouso. 9. Sê limpo e de bons costumes Nunca sujes tua mão Porque senão meu Irmão Terás fechado a porteira. Viverás cruzando estradas Tal qual as almas penadas Em noites de sexta-feira. 10. Vais dizendo pelo mundo Quanto vale a liberdade Que o nível da igualdade É uma jóia muito fina. Que somos nossos espelhos E os homens bem parelhos São qual botão de batina. 11. E se encontrares alguém Atolado na desgraça Tens o dever, e de graça Retirá-lo do atoleiro. Tu, praticando esse bem Verás que um outro alguém Por ti já lutou primeiro. 12. As luzes que vocês vêm São emblemas desta estância Que iluminam as distâncias Rompendo as trevas dos campos. São os sacis sorrateiros Que quando pitam palheiros Pedem fogo aos pirilampos. | 13. Dentro das trevas tem luz Mas somente a estrela boa Se reflete na lagoa Na busca da própria imagem. Dali é que brota essa luz Que irmanamente conduz Quem se perdeu na viagem. 14. Sigamos pois o exemplo Da vida, na própria vida Há uma coisa escondida Que levanta o arreador. Nos rodeios dos mistérios Há tantos ventos gaudérios Que brincam no corredor. 15. Da natureza bendita Estudemos ensinamentos Vemos que lição bonita O campo lá fora nos dá. Há contrastes de poemas Nos risos das siriemas Prá oração do sabiá. 16. Jamais um bando de garças Estende seu lençol branco À sombra de algum barranco Que pode esconder surpresa. Pois até a podre carcaça Da corvalhada, tem graça Tem fascínio, tem beleza. 17. Entre o céu e a terra amiga Tem tanta filosofia Que a nossa sabedoria É difícil compreender. Nasce a estrela no oriente Tem que morrer no ocidente Prá de novo renascer. 18. E assim nas portas do templo Que nos abre a natureza Só encontrarás beleza De um colorido diverso. E darás muito obrigado Se fores um bom empregado Do Patrão Mór do Universo. |
Extraído de: www.lojasaopaulo43.com.br